Verdade seja dita, antes do filme “Um copo de cólera”, pouca gente conhecia esse grande escritor brasileiro, Raduan Nassar, por motivos dados, principalmente, por ele. Isso porque ele fez questão de abandonar a literatura (ou será que continua produzindo em silêncio?) e ir viver em uma fazenda no interior do Brasil. Um autor, um tanto quanto, idiossincrático, sua obra se resume a três livros: o romance “Lavoura Arcaica“, a novela “Um copo de cólera” e o livro de contos “Menina a caminho”. Obra não muito extensa e, no entanto, grandiosa.
Sobre sua novela, quem assistiu ao filme “Um copo de cólera” chegou bem perto de alguma essência – se é que podemos determiná-la. Mas o filme fez jus ao livro, e sabemos que isso é bem complicado de acontecer. Pois então, a essência passa pelos limites de um relacionamento – o amor só se faz possível quando se tem, paralelamente, o ódio. A narrativa fala de um casal que, depois de uma noite alucinante de amor, dá início a um conflito sem fim. Conflito esse que faz com que venha à tona pontos até então nunca mencionados entre eles.
Podemos, a partir daí, fazer uma analogia da noite de amor com o momento da briga pois são momentos em que o ser humano se despe completamente, de corpo de alma. “… só sei que aí a coisa foi suspensa, o circo pegou fogo (no chão do picadeiro tinha uma máscara)…” (p.69), ele descreve em determinado momento. Pois é mesmo de máscaras que se trata, de falsos rostos que, ao serem utilizados, caracterizam qualquer personagem dramático. Máscaras e, acima de tudo, de funções e papéis que cada um cumpre em relação ao outro. Um homem, uma mulher, um jardineiro e uma empregada doméstica são as personagens desta novela que deixa qualquer um estupefato diante de nossos (!) limites.