Já morei junto  – o que pra mim equivale a um casamento sem a parte divertida da festa – duas vezes e já me separei duas vezes e por isso, me sinto confortável pra falar sobre o tema separação com alguma propriedade. Inclusive nessas duas ocasiões, perdi as contas de quantas vezes ouvi a frase que dá título a esse post vinda das mais variadas bocas. Ah, se fosse fácil assim!
No meu modus operandi de quem vive tudo na maior intensidade possível, uma separação é sem dúvida uma coisa muito difícil e absurdamente complexa de atravessar. Não é nada simples como todo mundo costuma dizer. “Casa, se não der certo, separa”. Pessoas costumam dar esse conselho umas pras outras de forma tão simplista como se dissessem “prova esse bolo, se não gostar cospe fora”. Tão fácil…. só que não é. Nem mesmo pra quem é desapegado ou pra quem já não aguenta mais estar casado.
Todas as fases de uma ruptura num relacionamento são igualmente difíceis e tudo começa no instante em que aquilo que supostamente deveria durar pra sempre, passa a ser questionado. O seu amor pela outra pessoa está sub judice. Não é nada simples olhar pro (a) parceiro (a) que você escolheu pra construir uma vida, pra gerar outra, e não enxergar nele (a) tudo aquilo que você um dia viu. “Como é que pode isso”? “Onde foi que o fim começou”? Essas são algumas das perguntas que assombram sem folga os pensamentos de quem decide se separar ,e a busca pelas respostas pode demorar um mês ou um ano.
A segunda etapa consiste na aceitação do fato de que seguir adiante com aquele relacionamento não é mais possível. A cruz é então colocada sobre os seus ombros e constantemente você irá se sentir soterrado por ela. Porque pesa muito tomar uma decisão de romper tudo, de separar o que é físico e o que é sentimento. Mais do que dividir discos, livros e imóveis, se divide a vida ao meio e essa é a parte que mais dói. A referência de amor, de parceria, de companheirismo que você tinha até pouco tempo atrás simplesmente se dissolve no ar e não é rara a sensação de estar literalmente sem chão. Você sente como se seu corpo estivesse vagando pelo espaço. Ouso dizer que esse é um dos momentos mais solitários da existência humana depois do nascimento e da morte.
Como se tudo isso fosse pouco,  você ainda vai precisar tomar uma dose bem generosa de coragem e lucidez pra olhar nos olhos da outra pessoa e dizer com todas as letras que não quer mais. Ainda não sei bem o que é pior nessa situação: falar ou ouvir. Ambos doem na alma de um jeito inexplicável e insuportável. Depois disso, que costuma vir sempre acompanhado de um banho de lágrimas, é hora de definir os rumos dos personagens: quem sai de casa, quem fica com as crianças ou com o cachorro. E então aquela vida toda que você planejou com tanto amor, com tanta dedicação e cuidado, se resumirá à uma infinidade de caixas de papelão no meio da sala que irão ser carregadas sem nenhuma delicadeza pela empresa de mudanças, e jogadas no fundo de um caminhão. E é exatamente lá que sua alma dilacerada vai estar: num baú imundo e escuro.
E por último, mas não menos pior, virão os dias muito mais longos do que o normal que trarão na carona a saudade, a solidão e o vazio. Até que, pouco a pouco, a vida vai ganhando forma e graça de novo. Porém, as cicatrizes desse rompimento vão ficar estampadas na sua pele pra todo o sempre e servirão de lembrança por tudo o que você passou. Para o bem e para o mal.

 

E então, depois disso tudo, você ainda vai continuar acreditando que se separar é tão simples?