Em ti me perpetuo este janeiro
heroico de manhã, de noite lasso
em ti derreto, em ti me liquefaço
em ti eu sou verão o ano inteiro.
Em ti me guio em céu de brigadeiro
carrego o sol nos ombros, me desfaço
no cálido horizonte do teu traço.
Em ti sou fogaréu, não fogareiro
sou chama e labareda, e em ti prevejo
o fogo de amanhã em que rastejo
a canícula eterna que me assa.
Quanto mais evaporo e sou fumaça
mais ardente me queima este desejo
do ar condicionado do teu beijo.
*Este poema faz parte do livro “O susto de saber-me deste jeito“, de Daniel Seidl de Moura.