Eu me considero uma pessoa bastante solitária. Embora não sejam raras as situações onde me vejo rodeada de gente e me agradem as interações sociais, eu me preservo inconscientemente, mantendo assim uma distância que eu considero segura, entre mim e o mundo exterior. Eu não tenho irmãos, cresci uma criança sozinha, fui uma adolescente cheia de amigos vazios e alguns bons amigos próximos, e quando eles não estavam por perto, me encontrava sozinha novamente. Não faço ideia de como é ter uma vida muito diferente desta.
As pessoas solitárias são assim, ora por opção, ora por imposição do ambiente.
Viver em São Paulo é solitário, apesar de todas as possibilidades da cidade. As vias são muito longas e a população muito numerosa. Por isso nos vemos, na maioria das vezes, cercados de completos estranhos, e totalmente absortos em nós mesmos.
A solidão me incomoda às vezes, permanecer quieta demais dá espaço para nostalgias que não são bem-vindas ou o puro tédio. Mas, na maior parte do tempo, eu tento aproveitar a minha condição para me dedicar a mim mesma.
Em alguns momentos a ausência de gente me apavora, quando tento vislumbrar o que está por vir e percebo que a maioria das pessoas que fazem parte da minha vida possui algo que as faz seguras sobre o futuro: sobrinhos, irmãos, filhos. Minha família é muito pequena e não tem nada disso.
Mas eu disfruto de momentos preciosos comigo mesma, podendo apreciar o silêncio que permite que eu me concentre apenas na minha vida. A minha solidão é tão rica que é uma das coisas que eu mais me importo que respeitem.
Eu costumo enxergar em mim um mundo tão complexo e profundo que nem um milhão de palavras poderiam descrever, e por isso eu passo horas rabiscando palavras e desenhos, que são como pequenos fragmentos de um navio naufragado, onde o mar é a minha mente e os pedaços de embarcações são as minhas experiências. Cada pedaço flutuando ou afundando faz parte do que eu sou. Eu adoraria que isso fosse ilustrável, ainda que parcialmente.
A solidão é perigosa. Deixa-te à mercê de fantasmas e demônios internos. Eles chegam tão perto que quase é possível tocá-los.
A solidão faz de mim uma pensadora buscadora. Já perdi as contas de quantas pessoas me disseram que eu penso demais. Um amigo meu me chamou de ‘personalidade buscadora de soluções’, aquela que não gosta que nada dê errado. Mas dá. E pensar demais é destruidor, alimenta os demônios.
A solidão é uma condição que dificilmente muda, porque é difícil deixar de reservar a si mesmo longos momentos de introspecção, especialmente quando você pensa demais. Em outros momentos, porém, é avassaladora a sensação de ser um ponto cinza na cidade sem cor.
Os solitários às vezes são mal interpretados, quando confundem o mero desejo de preservação da privacidade com arrogância. Na verdade tudo o que queremos é companhia que saiba que existirão momentos de reclusão. Momentos necessários para limpar a mobília interna. Apesar de não ser uma situação facilmente modificável, eu tento me adaptar, deitando todos os dias esperando que talvez amanhã o amor apareça, a vontade cresça, a extroversão prevaleça.