É muito claro quando alguma pessoa não abre espaço em sua vida para você. Mas a gente continua forçando e tentando, esperando que seja uma fase. “Dentro de um mês, dentro de um ano, quem sabe tudo mude”. Rostos bonitos e almas sensíveis não significam corações abertos. Deixamo-nos levar pela aparência calma de uma nova pessoa que surge, negligenciando todo o mundo que ela carrega nas costas, toda a história que pode fazer um coração se partir de novo.
Acho que quando duas pessoas se encontram é como uma colisão de dois universos complexos, que às vezes se fundem, às vezes coexistem, às vezes se repelem. Eu ainda não sei quando o meu universo coexistirá com o de alguém.
O cárcere do qual eu fujo é o medo de confiar.
Ontem conversei com um amigo sobre isso. E ele me disse: “Eu tô começando a criar uma hipótese aqui de que os relacionamentos dão merda – por mais que os dois se gostem – porque não há essa semelhança no grau de amor que um tem pelo outro…tipo, o lance de um amar mais o outro que o reverso etc. Acho que é difícil mesmo, cara. Tipo, não é só tu, eu também nunca encontrei isso. Acho que quando a gente encontra, rola aqueles relacionamentos felizes que duram pra sempre ou por décadas.”
Nisso fico me perguntando se apenas vivo numa espiral de sorte ruim ou se nasci para estar só na minha, sozinha, sem ter meu universo visitado por algum outro. E se toda a melancolia que eu sinto a respeito vem do meu coração ou do meio onde eu vivo. Paralelamente, eu observo relações alheias, algumas vezes regadas a pequenas grosserias, justificadas com “ah, ele apenas está num dia ruim”, “ruim com ele, pior sem ele”, “melhor isso do que estar sozinha”, e mais uma série de frases que apontam claramente relações pouco saudáveis, das quais eu ando fugindo. Já tive uma boa cota de relações doentias e agora penso, será que um relacionamento cheio de amarras e amargores é mesmo melhor que a caminhada solitária?
Embora eu lute constantemente contra o pessimismo, eu não tenho tido muitas razões pra acreditar que as coisas serão diferentes do que já aconteceu no passado. Minha memória afetiva é como uma parede forrada de lindos rostos em quadros com vidros quebrados, que me fazem perceber todas as ilusões e pequenas desgraças que me tornaram tão cética a respeito da honestidade humana. É claro que é horrível viver assim. Isto me leva a lembrar de um paradoxo: se atraímos a energia que emanamos (e por isso precisamos pensar positivo para atrair o positivo), como emanar algo bom quando seu coração está tão letárgico? Deve haver um meio, além de enterrar o passado, porque só isso não basta quando mesmo o presente te mostra cenas tão estapafúrdias sobre sua própria vida.
A extrema sensibilidade fez de mim uma artista. Que ironia, a extrema sensibilidade também é minha maldição.
Everybody hurts, sometimes everybody cries…