Você quer sair, você quer ouvir música na altura que você quiser, você quer levar quem você quiser na sua casa, você quer comer o que você quiser, deixar de comer o que você não quiser, arrumar as coisas na hora que for, e bagunçar todas as outras horas, você quer fazer o que você quiser, você quer viver sem prestar satisfação a ninguém, a não ser a sua consciência, afinal de contas você já está grandinha(o), já é alguém: está na hora de sair de casa. Você mete aquilo na sua cabeça e vai mover mundos e fundos para isso… e é bom ficar claro que os mundos e fundos aumentam conforme a idade diminui….ou seja, quanto mais novo, maior o perrengue por não se ter uma situação econômica estável. Você descobre que sua mesada não era uma situação econômica, e sim uma amostra grátis da vida real. Amostra grátis porque fazer o que você quer e ser quem você quer tem um custo que você não sonha qual. Só seus pais sabem. Mas você está disposto, afinal de contas, a liberdade parece ser mais fresca do que qualquer roupinha lavada, passada, e cheirosa, e mais atraente que um pratinho gostoso cheio de calorias que vão te fazer crescer. Está na hora de você sair de casa. Então está decidido: Patrícia, você vai sair de casa.
Começo procurando aluguéis baratos em regiões que pertençam ao meu circuito de rotina cotidiana… afinal de contas, quanto mais longe, é mais grana com passagem de ônibus pra gastar e mais rugas por estresse de trânsito pra ganhar. Odeio ônibus, não gosto da idéia de rugas aos 21 anos. Com o capital inicial que eu tenho, tudo o que dá é para um belo dum conjugado. *choque-de-monstro-realidade-1: minha casa confortável em Niterói com quintal para pegar um sol no Sábado, já era.* Dane-se, como pela primeira vez na vida vou poder colocar meu senso de estética espacial em prática, acho que vai dar super certo, eu sou criativa e vou me virar, porque eu vou fazer um esquema assim-assado que vai ficar uma graça, com cara de escritório muito aconchegante, vai ser o máximo, e como eu sou jornalista, vai ter tudo a ver, tal e coisa. De mais a mais, o Rio é cheio de praia, e eu adoro praia.
Então eu vou comprar a mobília do meu apartamento com cara de escritório muito aconchegante. Para um “escritório” (hahaha! Bom novo nome para conjugado!), não rola cama, e sim sofá cama. Uau! Tem um maravilhoso, em veludo azul, estrutura super-confortável de ferro…R$1.200,00. *choque-de-monstro-realidade-2: com essa grana eu compro um outro sofá mais baratinho de 400, uma geladeirinha de 450, um fogão de 150, e uns móveis tipo estante, essas paradas. Mas meu salário de estagiária só dá pro sofá baratinho por enquanto.* Então, nesse ritmo de compras da mobília com salário de estagiária, eu queria loucamente sair de casa em abril… e sai mais desesperadamente ainda em dezembro do mesmo ano. E dura. A empresa que eu trabalhava fechou no mesmo mês. Dura, desempregada, e… livre!
Mais que grande merda!!! Não ter grana pra dar lembrancinha pra ninguém no natal, não ter um puto pra comprar um psicotrópico, ou um biquini novo (afinal de contas, o Rio é cheio de praias…), não poder usar o celular (eu juro que queria me livrar dele e sei o quanto seria útil ao meu orçamento me livrar dele. Mas não dá por uma série de motivos, que eu explico na minha coluna Beijos na testa, número 4), não poder decorar o apartamento (Deus do céu! Como decoração, uma parada absolutamente fútil (mas essencial ao ambiente estético feminino) é tão caro!!! *choque-de-monstro-realidade-3: não poder decorar um apartamento para uma mulher é mil vezes uó!!!* Mas dane-se de novo: agora, já saí de casa, sou orgulhosa horrores, não volto pra casa dos meus pais nem morta. De mais a mais, meu relacionamento com os coroas melhorou 95% depois que eu saí de casa.
Patrícia, vai se virar vagabunda! Em um mês eu estava trabalhando de novo, e enfim, pagando minhas contas sem mais chorar de infelicidade por não poder comprar decoração. Não que eu agora tenha grana para decorar meu apartamento
do jeito que eu quero, mas pelo menos agora eu POSSO pagar as malditas contas nas datas. Mas uma estante um mês, uma cestinha outro, uma persiana (sim! Eu me livrei de meu vizinho tarado! – ver Beijos na testa, número 3) e um tapete, em cada mês, dá. Estamos chegando no inverno, e Gisele Bundchen não pára de desfilar camisetas maravilhosas nas propagandas da C&A. Quando eu morava com meus pais, comprava quase toda a coleção da loja, achava meio coisa de pobre, mas dane-se, as roupas são bonitinhas de qualquer forma. *choque-de-monstro-realidade-4: mas esse mês, eu comprei um tapete lindo azul e rosa bebê, e também uma persiana essencial… esse inverno não vai
ter roupinha nova. * Mas meu apartamento está outro com meu tapete novo! Então mais um vez, dane-se.
Quero reformar meu banheiro, quero um armário novo, quero pagar todas as prestações do meu computador, uma bicicleta nova, roupas novas, decoração, uma poupança… mas quanto perrengue!!! Será que na casa dos papis, a coisa não era melhor? NÃO! Por mais escroto que viver dura possa parecer, a realidade (sim, a realidade, ela mesma!) é que viver sozinha é uma puta aventura! Pode parecer irresponsabilidade achar até maneiro viver desse jeito, digamos, sem saber (muito) do amanhã. Mas hoje, eu posso sair quando quiser, ouvir música na altura que eu quiser, levar quem eu quiser na minha casa, comer o que eu quiser, deixar de comer o que eu não quiser, arrumar as coisas na hora que for, e bagunçar todas as outras horas, fazer simplesmente o que eu quiser, e eu estou apaixonada pelo meu novo life style.
Viver sem prestar satisfação a ninguém, a não ser a minha consciência, tem um preço absolutamente viável: tudo, definitivamente tudo, todos os perrengues e satisfações valem a pena para ser uma pessoa (eu disse pessoa, e não necessariamente uma adulta – porque isso, eu sei estou longe de ser com 21 anos, apesar de pagar todas as minhas contas e não dever nada a ninguém) feliz.
Ps: Viva a Casa & Vídeo!!!
Depoimentos
Bruno Levinson
Na verdade, sempre tive uma relação muito boa com a minha mãe e gostava muito de morar com ela e a minha irmã. Saí de casa 2 vêzes. A primeira quando fui viajar e passei quase 1 ano e meio fora. Depois voltei para a casa da minha mãe. Quando fui casar saí de vez mas, como fui casar, não fui morar sozinho. De qualquer forma foi uma grande curtição encontrar e montar o apê. Ficamos juntos 2 anos e meio até nos separarmos e aí sim pude experimentar morar sozinho. Com certeza é bom demais. Sozinho podemos conversar sobre o assunto que quisermos, podemos escolher o canal da tv sem nenhum estress, largar tênis, roupas, toalha molhada na cama, louça na pia, etc… e quando arrumamos a casa é a nossa casa que estará arrumada. Eu que era um grande bagunceiro na casa da minha mãe me vi bastante zeloso na minha casa. A gente vai se descobrindo! É bacana também ir percebendo que a casa vai ficando com a nossa cara. No mais, é bom também para fumar beque a hora que quiser e levar para casa quem quiser. numa dessas de levar para casa comecei a namorar uma menina que, evidentemente, foi passando a ficar mais aqui que na casa dela e olha que ela morava com uma amiga! Pronto! casei novamente!! Fiquei junto mais aproximadamente 2 anos e meio vivendo muito bem e adorando dividir o apê com ela, uma pessoa muito especial e, hoje, uma amiga que tenho com muito
carinho no meu coração.
Com o tempo a relação amorosa foi dançando e nos separamos. Pronto, já estava eu morando sozinho novamente!! Fiquei um tempo assim e acharia que ficaria mais ainda pois, definitivamente, gosto de falar sozinho sobre os meus assuntos. Morar sozinho é muito bom.
Agora, continuo morando sozinho mas… comecei a namorar novamente e, se der mole, lá vou eu para uma terceira relação. Gosto muito de morar sozinho mas também adoro compartilhar a vida com quem eu amo. Se eu tiver que casar e separar 10, 20 vezes para ser feliz amando, não tenha dúvidas que o farei. Positivamente, a vida não tem rascunho! Não vai dar para passar a limpo depois. Assim sendo, vou na maré… Sozinho e muito bem acompanhado.
Anne Clinio
Já tive muitas expectativas quanto a esse momento glorioso, em que a gente finalmente sai da casa dos pais. Mas agora tenho certeza de que não é tão fácil quanto eu imaginava com os meus ingênuos 16, 18 anos e ficava imaginando a hora de gritar “Independência ou Morte!!”. A verdade é que hoje eu consigo enxergar o quanto a gente é mimadinho na casa dos pais. Acho q ia ser o maior baque de repente ter que pensar nesses lances de supermercado, contas, blablabla…. mas eu não abriria mão desta oportunidade pela comodidade…. o impasse do momento é o de sempre: a grana!!!!!!
Alexandra Marchi
De vez em quando eu penso em como seria eu morar sozinha, especialmente quando eu passo em frente a umas lojas que vendem artigos de casa super fofos. Aí eu começo a viajar… Ao mesmo tempo, não sei se peitaria alugar um apartamento, talvez eu deixe para me emancipar quando eu tiver uma grana para comprar um para não ter que ficar pagando aluguel…Eu costumo dizer a todas as pessoas que eu conheço que, quando eu tiver a minha própria casa, eu vou ter um monte de coisas de gato como abajur, enfeites, almofadas, quadros… Vai ser uma casa muito fofa, com cara de casa de boneca, espero…
Bruno Porto
Moro há mais de um ano com a minha mulher. Há nove meses dois viraram três, com a chegada da nossa filha. Ainda assim, posso dizer que moro sozinho. Afinal, morar sozinho, desde que o mundo é mundo, é sinônimo de deixar a casa dos pais. Mais do que isso, é ser independente, assumir o timão da própria existência, fazer o que quiser; e puder, é claro. Essa autonomia, que é o sonho de sete a cada dez jovens, no entanto, tem seu preço. E não estou falando só de pagar as próprias contas (o que é o ideal, sempre; viver com paitrocínio pode até ser bom, mas não se compara a poder mandar qualquer um às favas sabendo que tem como pagar luz, gás et cetera). O mais importante, e nem por isso difícil, é saber o que fazer com a liberdade que é poder ouvir som alto, receber um grupo de amigos bêbados às duas da manhã ou simplesmente deitar no chão da sala e não fazer nada. Algumas pessoas querem ter um apartamento próprio só para fazer dele uma continuação da boate preferida. Nada contra, claro. Mas na maioria das vezes elas deixam de desfrutar de outro lado, o da solidão. Seja ela completa ou acompanhada daquelas poucas pessoas que nos fazem companhia mesmo estando no outro cômodo sem dizer uma só palavra (minha mulher, minha Mariazinha, alguns poucos amigos). Existem poucas coisas tão boas quanto botar uma música e deitar no sofá para ouvir. Mas para isso há de se estar de bem com a própria cabeça, deixando tudo arrumado e as portas abertas para quando a introspecção chegar. Pois sem ela, e o amadurecimento que ela traz, a gente continua filhinho(a) de papai e da sua autoridade – e é o que mais tem por aí – seja morando sozinho ou não.
Ronald Villardo
Xixi de porta aberta, televisão e som altos, bagunça e arrumação na hora que a gente quer, a parede da sala na cor preferida, os CDs e os DVDs na ordem imaginada, a louça na pia. Morar sozinho é assim. E não tem nada dessa história de solidão, querer alguém para dividir os momentos chuvosos ou algo assim. Até quando se namora, só o fato de saber que o parceiro (a) está lá, mas vai embora daqui a pouco, já melhora o humor. Moro sozinho há um ano e posso garantir a quem está a fim de encarar a empreitada: é muuuuito bom. Já experimentou? Então você sabe o que estou falando. Ainda não? Então se joga que vale a pena. Casou? Então espere um pouco e na próxima temporada faz tipo a Rita Lee e o Roberto. Cada um na sua casa. É a melhor coisa, pode crer.
Por Patricia Rocha