Na época do colégio a tal da liberdade era a única coisa que se almejava no mundo todo! Só serei feliz quando tiver minha casa, meu canto, minha bagunça e minha cafeteira. Aham. Aí a gente sai e vê que o nosso canto acaba sendo solitário demais, apesar dos oitocentos amigos que vivem apitando a campainha ou enfiando a mão na porta. Vê que a bagunça é infinita e apesar de ter que desviar de roupas, sapatos e caixas de pizza pelo chão, a nossa bagunça interna é ainda maior. E o pior de tudo, descobre que não há Dolce Gusto que faça aquele cafezinho passado de vó.

E aí, como abandonar o conforto e a mágica das fadinhas arrumadeiras, vulgo mães, que deixam nossa vida muito mais fácil e mesmo assim a gente reclama?

fernanda
Para Fernanda, 19 anos e estudante do primeiro ano de Engenharia da Computação, essa lambança toda funciona mais ou menos assim: “Faz dois anos que saí do conforto da casa dos meus pais para morar em outra cidade e fazer faculdade. O desejo de morar fora de casa existiu desde que fui morar em uma cidade maior, almejei durante 8 anos voltar pra minha pequena e pacata cidade que hoje, já não é mais pequena, muito menos pacata. Acredito que na cabeça de todos a ideia de morar em outra cidade, sozinho, é uma ideia não só de independência como de livre arbítrio para fazer o que quer sem uma cobrança de horários, como por exemplo não ter hora para comer, arrumar o quarto, estudar,… No entanto eu nunca havia pensado o quão difícil postergar essas coisas poderia ser, inconsequentemente antes de estudar sinto uma necessidade de arrumar todo meu quarto, como minha mãe me obrigada a fazer. Me encontrei em um universo totalmente diferente e que me fez ser mais responsável. Não são apenas as coisas básicas que fazem falta, coisas do tipo sentir fome e ter comida dentro do armário… É também aquela coisa de você ter que ir atrás do material para estudar se quiser passar na prova, de ter que fazer com que o seu dinheiro du

re pras contas, pro supermercado, pro xerox (que acredite, são muitos!) e ainda para eventualidades como remédios, festas… E é nessas horas que o coração aperta e a saudade transborda pelos olhos, morar fora de casa pra fazer uma faculdade, é sentir-se sobrecarregado e ter que aguentar isso no “osso do peito” porque estás fazendo isso pelo teu futuro. Sinto falta do conforto do meu sofá onde eu pouco ficava, falta de não ter ficado mais tempo com meus pais. Com a vinda pra minha cidade natal, sinto falta das opções que a cidade grande me oferecia. Certamente sair de casa fez com que eu desse mais valor para o que eu tinha e tornou minha relação com meus pais melhor – afinal passo tanto tempo longe deles e sentindo falta que quando estamos juntos não temos tempo pra brigar. No entanto, morar fora de casa é tudo de bom, só tem a nos agregar, nos fazer crescer e sonhar mais alto, pois com isso tudo adquirimos a força e a fé de que podemos realizar o que quisermos.”

Né?! E vivam as miojos, comidas congeladas e o atum! Eu daria um beijo em quem inventou o microondas, vocês não?

fafa

Enquanto a Fernanda ainda tá descobrindo todo um novo, cativante e assustador universo, a Fafá, de 23 anos e formanda do curso de Biologia já tem uma bagagenzinha recheada nesse quesito e entre divagações e saudades contou pra MOOD também!

“Morar sozinho, sair da casa dos pais. Se tornar meio-gente-grande. Só consigo lembrar de uma palavra pra quando isso aconteceu comigo: ASSUSTADOR. Me senti sozinha no meio de um mundo novo, afinal, sempre fui criada na tal redoma de vidro do papai, mesmo sabendo que o tal dia fatídico de morar fora de casa ia chegar. Mas chegou tão cedo, com 17 anos saí da confortável e mágica casa dos pais – porque convenhamos, só pode ser mágica a louça e a roupa lavada e a cama arrumada por ninjas invisíveis, o que só acontece na casa dos nossos pais. Trocar tudo isso pela responsabilidade de acordar sempre sozinha, de responder por mim mesma, de não ter mais um colo pra fugir todas as noites depois de um dia cansativo. A sensação de abandono durou um pouco, mas logo veio a sensação de liberdade. Mesmo eu contando cada passo meu para a minha mãe, me sentia realmente livre, sabia que a probabilidade de eles saberem de algo que eu fiz era mínima (e com 17 anos isso é inexplicavelmente estimulador). Mesmo assim nunca fiz nada de mais, sabia e sei sempre o meu limite. Minha família é daquelas que não consegue passar um dia sem se ver, a casa dos meus pais sempre esteve e está cheia de gente e comida, e o que sempre mais me fez sofrer é pensar em não estar ao lado, nem ao menos perto, das pessoas que eu mais amo na vida, aquelas pessoas que dariam a vida por mim. Só que, nesse caso, aprendi que independente de onde eu for, minha casa é onde pisam meus pés, e onde quer que eu vá, vou encontrar uma família que me acolha, ou até mesmo vou formar minha própria família, assim como eu já venho formando. Sempre tive o exemplo de que é possível encontrar uma nova família fora daquela que nos foi dada, uma que nós mesmo escolhemos em algum momento das nossas vidas, e esse é um dos exemplos que faço questão de seguir: conservar sempre a família de sangue, ou aquela que nos foi dada pelos nossos pais, mas deixar que a vida me dê uma novinha em folha de presente. Confesso que ainda penso às vezes em voltar, voltar correndo e me render à casa, aos carros, ao conforto, à vidinha gostosinha que poderia levar morando com eles. Mas nem todas as responsabilidades, nem todos os domingos sozinha, nem todas as invejinhas da minha família junta, sem mim, me faria voltar agora. A partir do momento em que meus pais entraram no carro chorando por me deixar com um quase desconhecido, que hoje é meu melhor amigo, sozinha em uma cidade que eu não conhecia nada, passei, desde aquele momento, a conhecer a vida que seria minha e só minha desde então. Passaria a construir o ser que eu sou hoje, um ser mais seguro, mais responsável, alguém que  valoriza as pessoas que passam a fazer parte da minha vida pelo tão mal falado destino e alguém que ama cada vez mais a família que está longe, por quem eu, cada vez mais, faria tudo o que fosse possível só por um sorriso.”

Já pode chorar e morrer de saudade? Pode! A matéria é minha e eu deixo. 😉 #NoMOODsaudade

Eu, por exemplo, saio e volto pra casa desde os 18 anos, muitos já foram os motivos, do tipo: experimentar dividir uma casa na praia com uma colega de faculdade desconhecida, amor, estudos, emprego em outra cidade… Todas as vezes deu uma saudade f***** de ter sempre pra quem correr, nem era tanto da roupa lavada e cheirosa ou da comidinha na hora, até porque comer a sobremesa antes do prato principal (novo nome pra macarrão instantâneo) é super morar sozinho e desafiar o mundo! #quemnunca #eusempre

Agora, na minha 4ª declaração de independência, as coisas começaram a fazer um pouquinho mais de sentido. Minha geladeira segue tendo só bergamota, cerveja e água, meu freezer segue tendo comida de mãe congelada, minha cama segue quase nunca arrumada e eu sou uma menina malcriada que deixa a toalha em cima da cama. Mas aquela sensação de chegar depois do trabalho ou da aula numa casa com a tua cara, ter teu cachorro ali te esperando, acender um incenso, molhar tuas plantinhas e tomar qualquer bebida que seja em caneca, não tem preço!

PS: ontem eu abri sozinha o meu primeiro pote de pepino, Mulher Maravilha é piada perto de mim depois dessa! Prazeres que só morar sozinha podem proporcionar. 😉 Próxima etapa: não explodir o mundo quando for usar a panela de pressão pela primeira vez. Ah, feijão. A gente nunca dá valor quando tem, mas ele faz uma falta! Ainda bem que existe a lentilha.

Enjoy, babies! Curtam suas aventuras e orem, todas as noites antes de dormir, pro Nosso Senhor do Miojão.

Por Paula Moran