Ame-o ou odeie-o. A definição é chavão, mas provavelmente não há melhor maneira de definir o (quase) polêmico humor de Jim Carrey. Careteiro, imitação barata de Jerry Lewis, exagerado, genial, histriônico e hilário são palavras comumente associadas às atuações deste canadense de 39 anos.
Extrovertido desde criança, James Eugene Carrey lançou-se como artista naqueles shows de comediantes que acontecem em alguns bares dos EUA e Canadá – e, movido pelas boas críticas, mudou-se para Los Angeles em 1979. Em pouco tempo era a atração principal do The Comedy Store, o mais tradicional point humorístico da cidade. Ainda nesta época casaria-se com a garçonete Melissa Womer, com quem tem uma filha. (Em 1996, divorcia-se de Melissa para ficar com Lauren Holly, que atuou a seu lado em Débi & Lóide. A união duraria até 1997.)
Daí para os primeiros papéis (secundários) na TV e no cinema foi um passo. Sua ponta em Peggy Sue Got Married (lançado no Brasil como Seu Passado A Espera), sucesso com Kathleen Turner, rendeu uma escalação para o filme “b” Earth Girls Are Easy, onde conheceu os irmãos Damon e Keenen Wayans (os mesmos que cometeram os recentes Scary Movie (Todo Mundo em Pânico)) – que, em 1990, lançariam o sitcom In Living Colour, onde Carrey finalmente apareceria para o grande público.
1994 foi o ano da redenção. Três filmes lançados nesse ano e estrelados por ele atingiriam bilheterias gigantescas: Ace Ventura, The Mask (O Máscara) e Dumb & Dumber (Débi & Lóide). Daí em diante tudo ficou mais fácil. Dois anos depois, com The Cable Guy (O Pentelho), Carrey já era parte da elite hollywoodiana, recebendo 20 milhões de dólares por sua atuação.
Preocupado em não ater-se demais às performances humorísticas, Carrey procurou desenvolver outras nuances como ator em The Truman Show (O Show de Truman) e Man On The Moon (O Mundo de Andy). Mesmo premiado com dois Globos de Ouro pelos trabalhos, Carrey enfrentaria o preconceito de grande parte do público – já estava rotulado como “palhaço” e “bobalhão”, e suas incursões no mundo do drama não alcançariam o que ele almejava – indicações ao Oscar.
Decepcionado, Carrey voltaria para seu metiér original no apenas razoável Me, Myself & Irene (Eu, Eu Mesmo e Irene), e logo depois no infanto-juvenil How the Grinch Stole the Christmas (O Grinch). Mesmo devendo melhores filmes ao público, Carrey permanece como um dos artistas mais bem pagos do mundo. Atualmente está filmando The Majestic, projeto de Frank Darabont (Um Sonho de Liberdade) com Martin Landau. O filme, que se passa em 1951, conta a história de um roteirista de Hollywood, suspeito de ser comunista. Depois de um acidente de carro, passa a sofrer de amnésia e acaba numa pequena cidade, onde reencontra sua coragem e sua paixão.
Felizmente toda a filmografia principal do ator está disponível em vídeo. Vale a pena rever e rever seus filmes sempre que der vontade de risadas fáceis – momentos de gargalhadas sem muito esforço. Ótimo para quebrar a concentração depois daquele filme iraniano com 4 horas de duração e sem legendas naquela sessão filmes da sua turma. A MOOD dá os destaques de seus principais filmes pra você. (Dica: se você entende bem o inglês, tanto melhor; muitas “gags” dos filmes de Carrey perdem-se na tradução – e algumas nem mesmo são traduzidas.)
Ace Ventura: Pet Detective
1994. Direção de Tom Shadyac. Roteiro de Jack Bernstein. 86min.
Com Courtney Cox e Sean Young
O primeiro grande filme de Carrey é considerado por muitos – e por mim também – o melhor deles. Ace, detetive de animais, é contratado para descobrir o paradeiro de Snowflake, golfinho mascote do time de futebol americano Dolphins, desaparecido dias antes do Superbowl – o jogo das finais do campeonato. No meio da história há sexo, morte e bandidagens variadas, entremeado pela atuação de Carrey, totalmente à vontade no papel e com performance memorável.
PORQUE VER: Muitos motivos! É o único filme onde o protagonista fala com a bunda; há muitos momentos impagáveis, como o diálogo entre Ace e Mr. Shickadance ou a festa de Ronald Camp; há uma cena em um show da banda americana de grind/splatter core Cannibal Corpse, da qual Carrey é fã; conferir John Capodice, um dos figurantes mais “figurantes” de Hollywood, no papel do detetive Aguado; as “estacionadas” cometidas com seu “carro”… e o bordão “alllllllrighty then!”
The Mask (O Máscara)
1994. Dirigido por Chuck Russell. Roteiro de Michael Fallon e Mark Verheiden. 97min.
Com Cameron Diaz.
Exagerando: se comparado a Ace Ventura ou Débi & Lóide, O Máscara é quase um drama. O filme não gira em torno apenas de Carrey; na história de um bancário que encontra uma máscara mágica que lhe dá superpoderes, seu papel é de protagonista, mas é apenas um papel – e não o motivo do filme. A seu lado, a estreante Cameron Diaz, absolutamente maravilhosa no papel que a lançaria no estrelato.
PORQUE VER: Aqui se consagra o estilo “careteiro” de Carrey. A cena em que recebe o Oscar é hilária, bem como aquela onde Ipkiss é encurralado por marginais em um beco. Além de Cameron Diaz, é claro.
Dumb & Dumber (Débi & Lóide)
1994. Direção e roteiro de Peter Farrely. 101min.
Com Jeff Daniels e Lauren Holly.
Dois retardados saem pelos Estados Unidos à procura de Mary Swanson, o amor de Lloyd Christmas (Carrey). Pra quem gosta de relaxar e dar risada até a barriga doer é um prato feito. O humor simples e até bobo do filme fazem com que uma hora e meia passem voando. E se der vontade de ver de novo, fique à vontade: tem pelo menos uma dúzia de piadas que você não viu da primeira vez.
PORQUE VER: Cenas memoráveis: a suave bola de neve que Harry (Daniels) atira em Mary, a viagem da dupla numa motoneta, o periquito sem cabeça, o envenenamento por pimenta… não tem como não rir!
Ace Ventura: When Nature Calls (Ace Ventura 2, Um Maluco na África)
1995. Direção de Steve Oedekerk. Roteiro de Jack Bernstein e Steve Oedekerk. 90min. Com Ian McNeice.
O detetive Ace Ventura volta à ativa, desta vez para investigar o desaparecimento de um raro morcego branco, símbolo de uma tribo africana. A continuação do filme anterior perde em pique, em roteiro e principalmente em direção, que exigiu de Carrey uma caricatura de si mesmo – e já que Carrey, naturalmente, é caricato, fica forçado demais. De qualquer forma, garante boas risadas.
The Cable Guy (O Pentelho)
1996. Dirigido por Ben Stiller. Roteiro de Lou Holtz Jr. 91min.
Com Matthew Broderick.
Um instalador de TV a cabo quer fazer um amigo – a qualquer custo. Carrey angustia qualquer um com sua insistência doente para conquistar Steven (Broderick). Esse filme marcou o início dos salários milionários do ator: até que recebesse o pagamento de 20 milhões de dólares, Carrey andou com um papel em branco na carteira, escrito “vale U$20 mi”.
PORQUE VER: Só a cena em que Carrey canta Somebody to Love, do Jefferson Airplane, no videokê, vale o aluguel do vídeo.
Liar Liar (O Mentiroso)
1997. Dirigido por Tom Shadyac. Roteiro de Paul Guay e Stephen Mazur. 86min.
Com Maura Tierney e Justin Cooper.
Se Ace Ventura 2 e O Pentelho são filmes apenas medianos, Carrey volta ao seu melhor estilo em O Mentiroso. A história de um advogado que não pode mentir por 24 horas rendeu a Carrey reconhecimento maior por parte do grande público geral, mostrando que suas caras retorcidas podem conviver com papéis menos “bobalhões”.
PORQUE VER: A sinceridade que muitas vezes deixamos de lado em nome da polidez e da “política de boa vizinhança” rende ótimas “gags”… notadamente nas cenas em que Fletcher Reed fala a verdade nua e crua, como na cena em que vai para a cama com sua chefe ou ao passar por um mendigo na rua.
The Truman Show
1998. Dirigido por Peter Weir. Roteiro de Andrew Niccol. 104min.
Com Ed Harris e Laura Linney.
Um vendedor de seguros descobre que sua vida é, na realidade, um programa de TV. Perturbador, não? Aliado ao original mote está a direção precisa de Peter Weir, que faz o espectador sentir-se assistindo ao próprio programa de TV, e não a um filme. Sátira aos tempos modernos, Truman Show mostra que Carrey é mais versátil do que seus detratores poderiam pensar.
PORQUE VER: Se você não gosta mesmo de Carrey, assista pelo grande filme que é. Se é um fã de Carrey, vai dar muitas risadas.
Man on the Moon (O Mundo de Andy)
1999. Dirigido por Milos Forman. Roteiro de Scott Alexander e Larry Karaszewski. 118min.
Com Danny DeVito, Paul Giammatti e Courtney Love
O projeto mais ambicioso de Carrey. Ele chegou a comprar os bongôs de Andy Kaufman, comediante cult biografado no filme, para o teste que fez com o respeitadíssimo Milos Forman, diretor da obra. Carrey entregou-se profundamente ao papel, e saiu-se muito bem, tendo ganho seu segundo Globo de Ouro por sua atuação (o primeiro foi por Truman Show).
PORQUE VER: Além da atuação fantástica de Carrey? Pelas cenas de Tony Clifton, o alter-ego cantor de cassino (nunca ninguém ousou fazer uma versão de Volare, Volare como a dele) e pela ex-senhora Kurt Cobain Courtney Love, quase irreconhecível.
Me, Myself & Irene (Eu, Eu Mesmo e Irene)
2000. Dirigido por Bobby e Peter Farrelly. Roteiro de Peter Farrelly. 116min.
Com Renée Zellweger
De volta com os irmãos Farrelly, neste Eu, Eu Mesmo e Irene Jim Carrey vem de maneira over demais. Como que atingido pela não-indicação ao Oscar por O Mundo de Andy, o ator parece estar já sem muita motivação para voltar às comédias de riso fácil. Apesar dos furos (gigantescos) de roteiro, dá pra assistir ao filme sem problemas, desde que não haja muitas expectativas.
PORQUE VER: Há boas cenas que lembram o velho Carrey de outrora, mas quem acaba roubando o filme são mesmo seus três filhos. O trio da pesada destila um humor direto, ainda que não rasteiro – justamente o que faltou para o papel de Carrey, chulo demais em alguns momentos.