Voltou. Entrou mais uma vez nos meus sonhos. Revirou o baú e descobriu aquela carta guardada. Aquela carta de amor que, depois de escrita e selada, não havia sido lida por ninguém. Mas rompeu o selo e mesmo já imaginando o que ela dizia me forçou a ler. E em voz alta! Como quisesse não só confirmar suas suspeitas, mas as ouvir como uma declaração. E mais! Como quisesse me fazer admitir para mim mesmo os sentimentos que não queria revelar. E aí se foi, estava desencadeado. E aí se foi, ou veio, é, veio. Veio tudo. Voltaram fantasias, voltaram ilusões, voltaram vontades e desejos ocultos. Voltou toda aquela tempestade. E feito fera que, enclausurada por muito tempo, irrompe revoltada e desastrosa, destruiu tudo o que antes a escondia e trancava. Destruiu até as mentiras que sustentavam sua ocultação. Depois disso eu não sabia mais viver. E depois disso não saiu mais dos meus sonhos.