Bom dia com mensagem edificante: cada vez que alguém diz “Seja homem”, “Aja como homem”, “Homem não chora”, “Beba feito homem”, “Use suas bolas”, “Jogue como homem” pra um garoto, está, na verdade, dizendo “você não é homem suficiente – e pra ser homem você tem que ser grosso, agressivo e esconder suas emoções”. O resultado são homens grossos, agressivos e babacas – ensinados a ser assim – ou, sei lá o que é pior, homens gentis e humanos que não se sentem homens o suficiente (porque pra ser homem é preciso fazer as coisas ‘feito macho’).
Pois o documentário ‘A máscara com a qual você vive’ (‘The mask you live in’) mostra, com entrevistas com educadores, psicólogos e rapazes, os efeitos de uma frase simples como “Faça isso igual a homem”.
Basicamente, estamos dizendo que eles não devem chorar. Que devem bater, que devem falar alto, tocar alto, jogar agressivamente. Que não é de bom-tom recusar uma mulher dando mole, mesmo que você não esteja a fim (e que ela não esteja exatamente dando mole). E que, se por algum motivo, optarem pela delicadeza, pela gentileza ou por não pegar qualquer uma só porque é mulher e está dando mole, que não são homens. O quão equivocado é isso?
Vi o trailer do filme no Upworthy, aquele site incrível com vídeos que são tapas na cara da sociedade. Compartilho aqui, porque é uma bela portunidade de pensar em como criamos nossos meninos e fazer diferente. E, se você é menino, uma boa oportunidade de pensar em como você foi criado – reflita, se ‘deseduque’ e aceite o cara gentil que você é, que se permite dançar, cuidar da casa, cuidar dos seus filhos, chorar vendo filmes ou qualquer outra coisa que te ensinaram desde cedo que ‘é coisa de mulherzinha’ e até hoje você se sente esquisito por fazer.
Você não precisa ser estúpido pra ser homem. Basta ser humano.
Do mesmo pessoal do documentário “Miss Representation“, uma reflexão sobre a representação da mulher na mídia e o que isso faz com elas – ou com a gente. Sabe a tal ‘objetificação’ da mulher, sobre a qual toda feminista levanta bandeira? Bem, vocês estão olhando (ou melhor, lendo) uma assumida não-feminista – considerando o estereótipo feminista, claro -, mas que **também** acredita que a maneira como a gente é mostrada tem reflexos não apenas nos rapazes (aqueles que veem propagandas e mais propagandas da mãe servindo toddy pras crianças enquanto o pai está ausente das funções do lar, ou que jamais ficariam com uma gorda porque, né? Gorda) como em nós mesmas – que crescemos comprando esse discurso – o de que mulheres estão na cozinha enquanto os homens trabalham, salvam o mundo de uma invasão alienígena, estão no bar bebendo (e a gente com as crianças, porque, ei, quem vai ficar com as crianças se o pai está no boteco bebendo, não é mesmo?) ou o que quer que você ache verdade. E que nós somos, obviamente, frágeis. E feias, porque temos peito pequeno, narigão ou cabelo branco – e precisamos de mais peito, menos nariz ou cabelos ruivos se quisermos nos sentir bem na nossa própria pele.
…e não fazemos NADA pra mudar o estereótipo de ‘mãe cuidadora e pai provedor’ porque, pela lei brasileira, temos apenas QUATRO meses de licença-maternidade – ou você larga o seu emprego pra ficar com o filho, ou larga o filho pra trabalhar, enquanto ele aprende todo o ciclo da mulher-incompleta e do cara-que-pra-ser-macho-tem-que-ser grosso com alguém – que não é o pai, porque o pai também não vai largar o emprego pra ficar com a criança, ainda que você ganhe muito mais que ele e possa sustentar a casa, certo? E nem OUTROS estereótipos. Quer dizer, algumas de nós fazem. Outras reclamam. Aceitam. Casam com caras que perpetuam esse tipo de comportamento (o de que a mulher SEMPRE vai ficar à sombra do cara). Educam seus filhos e filhas pra isso.
Tá certo isso não.
(veja bem. NADA contra ficar em casa enquanto o cara tá na rua salvando o mundo. Nada MESMO. NADA contra ganhar menos do que seu colega homem. NADA contra trabalhar mais e ganhar menos ou a mesma coisa. Mas isso precisa ser uma OPÇÃO, não a única alternativa conhecida).
Bora mudar. Já. Agora. Começando pela nossa própria maneira de ver o que fazemos ou deixamos de fazer só porque nascemos com um ou com outro tipo de aparelho reprodutor. O que você foi EDUCADO pra fazer? O que você esconde por trás dessa máscara de machão? E você, garota? O que queria fazer da vida? E por que não faz?
Começar a mudança por nós mesmos já é um grande primeiro passo.