Desde que a norte-americana Julie Powell resolveu dominar a arte da culinária francesa sob a batuta de Julia Child através de um blog, escrever sobre culinária na internet se tornou um indicativo fiel do que está em moda no mundo mágico dos sabores.
A maravilha da internet é que ela se torna um grande arquivo e, se visitarmos postagens antigas de blogs culinários web afora, veremos indicativos do que sobe e desce no paladar das pessoas.
Mas por que o que comemos parece também se encaixar em círculos de hype X obsolência?
A designer de interiores e cozinheira amadora, Tamyris Galvão, 25, diz que as pessoas têm tanta necessidade em experimentar o que o outro faz que acaba saturando tudo. “Um puro caso de inveja, seguido de ‘maria vai com as outras'”, diz.
Some a isso a magnitude da informação na era do Instagram.
Com as redes sociais, a coisa tomou proporções virais. Quem nunca postou pelo menos uns dez memes sobre bacon? Aliás, era quase impossível em 2012 passar um dia pelo Facebook sem se deparar com alguma postagem sobre a deliciosa gordura subcutânea do porco. Ou Sushi. Ou cupcakes. Ou brigadeiro de colher.
No Brasil, a ideia de “comida da moda” pode soar muito sofisticada. Afinal, somos a nação do feijão, arroz, bife (de preferência acebolado) e batata-frita e isso não passa nunca.
Acontece que assim como a “moda fashion”, a moda culinária também faz parte de uma elitização das coisas. Certas iguarias como cogumelos, tomate seco, salmão, estrogonofe e até trufas de chocolate são de culturas culinárias importadas que, muitas vezes, eram associados ao preço elevado de alguns de seus ingredientes.
A inacessibilidade gera o desejo. Só que com o aumento do poder aquisitivo do brasileiro, os desejos tornaram-se alcançáveis e o custo de muitos pratos caiu. Uma prova cabal são os variados tipos de “rodízio” que há por aí: de pizza, a Sushi e até café!
Então, o interessante é perceber que na culinária também há a eterna “luta de classes”, na qual a ostentação do sabor exclusivo e luxuoso acaba causando por ele o desejo de quem não pode tê-lo.
Por outro lado, a memória afetiva da culinária costuma ser mais forte e, apesar dos modismos, é mais fácil revisitar certos pratos do que certas roupas. Afinal, quem não sente o salivar nostálgico da infância ao pensar em cajuzinho e olho de sogra?