Em uma sociedade de instantes, em que a fama atinge pessoas que atraem atenção e status pelos mais insólitos motivos, discutir sobre o hábito de leitura dos jovens não deixa de ser refletir sobre o que se circula no país, por mais desgastada que a discussão possa ser.
Desgastada e contraditória, pois vários são os aspectos que apontam que os jovens leem cada vez menos livros de um modo geral e, menos ainda, obras que não estão no que chamamos cânone. Reclamação de professores, gafes dos vestibulares, pesquisas de institutos. Ao mesmo tempo, a venda de best-sellers infanto-juvenis adquiriram fôlegos de astronômicas cifras desde Harry Potter, publicado pela primeira vez em 1997. A partir de então, só dessa saga foram sete volumes, que contribuíram muito para popularizar outros livros.
Os grandes volumes desses textos só indicam que jovens estão sim dispostos a lerem calhamaços. Daí, então, alguém pode perguntar por que o mesmo não ocorre com os clássicos e endossar um discurso acerca da superficialidade dos jovens de hoje. Posição que pode ser repelida com um simples argumento. Leitura não é obrigação, mas hábito, um hábito diferente, pois está intimamente associado com algum tipo de prazer. Seja ele o prazer do entretenimento, o prazer pelo conhecimento. Além disso, a leitura é algo que por si só é um imaginário construído e alimentado antes mesmo de a criança saber ler, veja a empolgação de um bebê tentando imitar a mãe leitora, ou fascinada em compreender o que tal objeto faz para prender a atenção de alguém.
Após aprender a ler, como a própria definição de texto enquanto tecido de citações indica, uma leitura prazerosa puxa a outra. Seja o autor, o tema, a saga, ou até mesmo as referências internas presentes no livro. Daí, Harry Potter, por exemplo, impulsionou a literatura fantástica de Tolkien e o seu Senhor dos Anéis e de C.S.Lewis escritor de As crônicas de Nárnia. Abriu ainda as portas para a saga O Crepúsculo, que por sua vez fez com seus leitores se tornassem fãs de nada mais nada menos do que Emily Brönte, uma vez que Bella, a mocinha da série vampiresca tinha O morro dos ventos uivantes como o seu romance preferido.
Outro filão da lista de best-sellers infanto-juvenis é a literatura feminina, que tem no livros da Gossip Girl, narrativa que gerou um seriado americano, Coração de Tinta, O diário da Princesa e Querido diário otário, títulos com grande destaque. Por fim, para apaziguar os mais intelectualizados e nacionalistas, não podemos deixar de destacar a o clássico Pequeno Príncipe, que nunca sai da lista dos mais vendidos e escritora brasileira do momento, Thalita Rebouças com os seus 15 títulos. Com sua experiência, ela defende que desde que começou percebe uma diferença na relação dos jovens com a leitura. Para ela, antes os adolescentes tinham vergonha de admitir que liam. Hoje, o vergonhoso é falar que não lê!