Hey! Dilma! Vai tomar no c*! – Gritavam os ‘torcedores “brasileiros”’ a plenos pulmões no Itaquerão, no dia 13 de Junho, antes da vitória do Brasil sobre a Croácia na estréia da Copa do Mundo FIFA de Futebol. – A culpa é da Dilma, que não pagou a parcela! – Disseram no Twitter os piadistas de plantão após e até mesmo durante o jogo com a Alemanha, quando o Brasil perdeu por 7 gols contra 1. – O maior vexame da história do Brasil! – Disseram outros, e muitos.
A vaia foi taxada como falta de educação, as piadas foram entendidas como piadas, mas quando uma nação esquece sua história (escravidão, imperialismo, ditadura militar) e taxa uma derrota em um jogo de futebol como a maior vergonha do país, aí o problema fica mais evidente: a relação constante que se faz entre o Brasil, um país, e a Seleção Brasileira de Futebol, um time.
Não é recente a ligação entre futebol e política: já na era Vargas o esporte era usado como massa de manobra política, mesmo que ainda timidamente numa leve tentativa de imitar a política do pão e circo criada por Roma em séculos passados… A relação, no entanto, deixou de ser tímida em uma decisão estratégica do regime militar, entre 1964 e 1985, no governo do General Médici, quando Pelé virou garoto propaganda de um projeto educacional e jogadores da Seleção Brasileira protagonizaram vinhetas televisivas, para estimular a associação do governo à entidade. De forma milimetricamente planejada, o governo militar promoveu a associação de jogadores de futebol à de soldados brasileiros, defensores da nação. Times de futebol foram utilizados como meio de disseminar a noção do Brasil como um território extenso e plural, porém unificado (em grande parte na paixão pelo futebol). Seguindo um modelo bem sucedido de conversão da glória esportiva das nações em capital simbólico para o Estado, o governo do General Médici utilizou o futebol para inserir no imaginário do torcedor a idéia de que torcer pela Seleção Brasileira era o mesmo que ser patriota.
Já fazem quase 30 anos desde o fim da ditadura militar, mas a relação construída pelo regime de Médici entre a Seleção e o Governo continua, assim como muitos conceitos instituídos no período, tão vibrante quanto antes. 30 anos depois, inclusive, o processo parece ter ido além: Ao incorporar a idéia de que ser torcedor é o mesmo que ser patriota, o torcedor parece ter esquecido de que ser patriota não é apenas ser torcedor.
Seja o futebol o ópio do povo ou não, é inegável a capacidade que este esporte contagia. Em época de copa do mundo então a coisa fica ainda pior: o torcedor se deixa viciar pela vontade de torcer pela seleção, veste a camisa e se enche de vontade de se ver novamente campeão do mundo e exibe com orgulho sua brasilidade.. O que, no entanto, ele esquece, é que ser Brasileiro é mais do que apenas torcer por um time formado por atletas de ponta, considerados entre os melhores do mundo, com praticamente total certeza de uma grande performance em campo. Se esquece de que para ser Brasileiro é preciso carregar nas costas o peso de sua nacionalidade, defender seu país e lutar para melhorar nele tudo aquilo de que sempre reclama.
Carecemos de noção. Precisamos separar o resultado do jogo da Seleção do resultado do jogo político e aprofundar o conhecimento político de nossos cidadãos, ensiná-los a buscar seus direitos, a entender seus deveres e a torcer mais pelo país, do que pelos 11 jogadores que correm atrás de uma bola de um lado para outro em um campo de grama verde já que, afinal, por mais emocionante que seja, algumas bolas em uma rede são menos importantes do que o futuro de 200 milhões de habitantes. – Todos juntos vamos, pra frente Brasil, Brasil! Salve a… – Educação!