Ao contrário do que muita gente pensa, Elvis não era um gordinho suado, com uma roupa (muito) justa, com voz de cantor negro. Ele também foi isso, no fim da carreira. Como diria um grande amigo, músico e compositor gaúcho, Frank Jorge, “Elvis na fase decadente é bem melhor que muita gente.”. Pura verdade. Mas não vamos falar da fase decadente dele. Eu, que sou fã, não acho que ele tenha tido uma fase decadente. Não acredito nem que ele já tenha morrido. Enfim.
Vamos pensar na importância que esse gordinho tem pra nossa cultura e pra nossa história como um todo e nos motivos que nos levam (ou nos obrigam) a admirar, respeitar e adorar esse cara.
Elvis nasceu no dia 8 de Janeiro de 1935, ano em que a Alemanha reestabelece o serviço militar obrigatório. Pensando nisso, podemos imaginar que ele nasce em um momento em que o mundo estava passando por uma grande transformação com a guerra.
Quando ele era pequeno, frequentava os cultos da Igreja Pentecostal da cidade onde morava. Gostava muito da música Gospel. Como era um menino norte-americano e sulista, não tinha como escapar da Country Music e do Blues. E é aí que o bicho pega.
Dentre todos os seres humanos, Elvis foi o único que estava no lugar certo, na hora certa, com voz de negro. Foi ele. E não foi nada calculado. Pra se ter uma idéia, quando era bem jovem, ele preferia ter um rifle no lugar de um violão, mas a mãe dele insistiu e ele ficou com o violão mesmo. Sorte a nossa…
Não vamos entrar no mérito familiar, mas é bom mencionar que Elvis foi o sobrevivente de um parto entre gêmeos. Seu irmão gêmeo, Gesse Garon, nasceu morto.
Continuando: Elvis, que nasceu em East Tupelo, foi com a família pra Memphis em 1948. Já em Memphis, Elvis começou a querer gravar algumas músicas e isso mudou a nossa história eternamente. Sabe aqueles fatos históricos que são determinantes para a nossa existência e vão sempre ser referência? Tipo, sempre MESMO. Não me refiro a nada religioso ou messiânico, mas cultural. Com essa vontade de gravar algumas músicas, Elvis provocou isso no nosso tempo e na nossa existência. Ele queria apenas gravar umas músicas, nada de grandioso. Foi em um estúdio chamado Sun Records, de um cara chamado Sam Phillips, que Elvis foi gravar. Sam Phillips adorava a música negra, trabalhou com artistas negros, como B.B. King, por exemplo. Além disso, outros artistas brancos já vinham trabalhando com Phillips, como Carl Perkins, Roy Orbison, Johny Cash e Jerry Lee Lewis. E Sam queria popularizar a música negra, o rythm’n blues.
Elvis entra na Sun Records e grava algumas canções que não encantam tanto. Em um momento de total descontração, ele canta um blues, chamado “That’s Alright, Mama”, e isso, meus amigos, é o que mudou o mundo. O marco zero do rock and roll: 5 de julho de 1954. Sam Phillips encontra o branco com voz negra e um gênero musical totalmente novo. Em um lugar onde a segregação racial era vigente, sul dos Estados Unidos, Elvis foi o único que conseguiu juntar negros e brancos em um mesmo evento. Rock and Roll era o nome. Esse fato é tão importante que, acreditem, toda a cultura popular foi percebida. Os jovens passaram a ter voz. A sexualidade podia ser vista a luz do dia, com roupas, cortes de cabelo, chicletes, botas e violões e roupas de couro ou ternos largos e bregas. A cultura pop começa a existir como a conhecemos hoje.
Podemos dizer que Elvis foi o primeiro grande brega da história. Não pense que Elton John tem esse mérito sozinho.. Ele copiou do Elvis. E tu, que é um jovem que gosta do indie rock dos anos 2000, não pense que a suas costeletas, seu topete e sua roupa justinha de couro nasceram com os Killers ou com o Arctic Monkeys. Isso veio do Elvis! Elvis é o Rei e o Pai do Rock and Roll e dessa bagaça toda que veio depois.
Passados alguns anos, Elvis já era ídolo maior de todos os grandes artistas que vieram depois dele, como os Beatles, por exemplo. Os Beatles no começo eram “teddy boys” (procure saber), e se inspiravam no Elvis. Eram totalmente fanáticos por Elvis.
Depois de já ter adquirido sua famosa casa em Graceland, Elvis chegou a ir para a Alemanha, em 1958. Ok, pode ser uma bela jogada de marketing, mas ele foi, como um soldado comum. Imagina estar em um treinamento, olhar pro lado e ter o Elvis como “colega” de batalhão, de uniforme, arma e cabelinho de milico. Foi nessa época que ele começou a lutar karatê. (procure sobre isso também, é interessante).
Toda a construção artística de Elvis, seja cantando ou atuando, ele fez nos Estados Unidos, salvo um momento que ele foi para o Canadá. Mas, em resumo, ele nunca saiu de lá, nunca explorou seu público fora da América, nunca foi fazer show na Europa. Só com isso a gente consegue ter uma vaga idéia da magnitude desse animal, literalmente.
Dentro de uma das grandes facetas do Rei, existe um cara generoso, disposto a ajudar os outros, sem poupar esforço ou dinheiro. Houve um episódio muito interessante, que depois de saber, duvido que não pense “poxa, que cara legal..”. Ele queria comprar um Cadillac. Um dos vários que ele teve.. Foi na revenda de Memphis, entrou, disse que queria comprar e o vendedor se negou a vender, disse pra ele ir embora da loja. Claro, afinal de contas um jovem, de topete, costeletas e uma roupa meio almofadinha não poderia ter como comprar. Obviamente Elvis não gostou disso, saiu da loja e viu um menino na rua, que tentava ganhar uns trocados lavando vidros de carro (sim, lá também tem isso.. Difícil de acreditar, mas tem..). Elvis se aproxima e pergunta: “quanto tu ganha por semana pra lavar os vidros de carro?” O jovem responde uma quantia miserável. Então Elvis chama ele e os dois voltam até a loja. Ao entrar, Elvis diz para o vendedor que quer falar com o dono. Vem então o dono e Elvis diz: “Eu vim aqui comprar um Cadillac. Vou pagar a vista, em dinheiro, e vou levar ele agora.” E antes de sair, completa: “Ah, e a comissão da venda é desse menino, que foi a única pessoa que me tratou bem aqui dentro dessa loja.” Muito mestre…
Nos anos 70, Elvis foi nomeado agente federal pelo Nixon. Acredite! Estava preocupado com o aumento do uso de drogas pelos jovens norte-americanos e pediu para ajudar. Sendo assim, foi encontrar o presidente e pediu para ser nomeado. E quem o presidente dos Estados Unidos pensa que é para dizer não para o Elvis, não é mesmo?
Como não vai ser fã de um cara assim???! O Elvis é demais…
Os hábitos dele, de um modo geral, não eram ruins. Ele não bebia e não fumava. Mas ele comia qualquer coisa.. Houve um momento da vida em que ele comia em calorias a mesma coisa que um elefante jovem. Juro. Dá pra pesquisar isso no Google. Tá lá. Ele sempre se alimentou “bem”, mas da maneira errada. Presunto frito, bacon, ovos, refrigerante e outras coisas mais, diariamente, durante anos e anos, só poderiam resultar naquela bolinha suada que a gente viu que ele ficou nos anos 70. Fora isso, Elvis tinha depressão, nunca se recuperou da morte da mãe e da separação, quando sua mulher trocou ele pelo professor de Karatê. Safada… Além disso, pelo estresse e outras coisas, ele se viciou em remédios. Tomava remédio para dormir, para acordar, para regular o apetite, para o colesterol, para tudo. Isso certamente contribuiu para sua morte. Péssima alimentação e remédios. Houve uma época em que ele tomava 8 remédios diferentes por dia! Mas que astro do Rock não é doidão, né..?
Hoje em dia, não temos referências como um Elvis da vida. No Brasil então.. Naldo? Não dá né.. Por isso que o Elvis é tão importante. Ele realmente mudou o rumo das coisas, não foi uma figura descartável, não fez algo passageiro. Ele mudou a história. Eu sou fanático por Beatles, e sei que é a maior banda de Rock da história. E eu sei que, mesmo quem não gosta e diz que não gosta de Beatles, é influenciado por eles de alguma forma. O Elvis foi quem influenciou os Beatles. Entende a diferença? É como se os Beatles, The Who, Rolling Stones, Beach Boys, etc.. fossem Adão e Eva e Elvis fosse deus. Tipo isso.
Enfim, Elvis serviu seu país, era contra as drogas, ajudou os pobres, não tinha preconceitos de raça, sexualidade, conta bancária e preferência musical. Não bebia e não fumava. Praticava e patrocinava o Karatê (era faixa preta até o último grau e ainda financiou a ida da seleção norte-americana de Karatê para um torneio em outro país), era músico, era ator e, por último mas não menos importante: inventou o Rock and Roll.
Como não gostar desse cara????
Elvis deveria ter sido o presidente do mundo!!!
Por Daniel Tessler, músico e compositor. Viciadinho em comédias. Romantico a moda antiga, que gosta de ver tudo transbordar. Desde o copo de cerveja, até as lágrimas em uma bela canção ou na risada de uma boa piada. Bom é aquilo tudo que dá pra sentir! O resto sai na urina.