Uma amiga querida se apaixonou por um cara que conheceu na faculdade. O sujeito era tímido no mais alto nível e interagia com poucos colegas;  ela era uma delas. Trocavam meia dúzia de palavras de vez em quando e ele parecia estar interessado. Afinzona que estava, um dia  minha amiga resolveu convidar o cara pra sair e ele topou no ato. Jantaram num restaurante bacana, conversaram sobre os estudos,  viagens, relacionamentos, presente, passado e futuro. Esticaram a noite num barzinho pra tomar mais uma cerveja,  seguir o papo e… bem, o resto você imagina. Pois é, mas nada aconteceu. Conversaram, conversaram, conversaram, beberam, beberam, beberam e ele foi deixá-la em casa. Parou o carro em frente ao prédio e instantaneamente aquele clima de “e agora?” pairou no ar. Se olharam. Ela pronta pro embate, ele transfigurado de tão nervoso. Ela quebou o gelo e acabou com a dúvida sobre “o que eu faço agora?” agradecendo a noite e dizendo que tinha curtido muito ter saído com ele, que retribuiu e disse que também tinha gostado de sair com ela e que poderiam repetir. Ela concordou dizendo que aceitaria um convite pra sair de novo. Beijinho, beijinho, tchau, tchau e era isso.

No dia seguinte, as colegas de faculdade queriam saber como tinha sido a noite, se tinham ficado, se havia sido feito algum outro contato, se ele tinha chamado ela pra sair outra vez. Ela contou que a noite tinha sido divertida, mas que nada tinha acontecido além de muito bate papo. As amigas então começaram a consolá-la dizendo que ele era muito tímido, muito devagar, por isso não tinha beijado ela ou convidado pra um outro encontro. Diziam que ele era um cara sem atitude, acomodado e outros tantos adjetivos depreciativos que tentavam justificar aquilo que ela ja sabia e era óbvio: ele não estava afim. Simples, objetivo, líquido e certo. No meio daquele tititi todo, ela deu a sentença que todas ja desconfiavam, mas tentavam esconder:  “ele não quer ficar comigo. Só isso”.  As amigas calaram a boca na hora e olharam mudas pra ela com aquela cara de quem foi pego em flagrante contando uma baita mentira.

Somos todas encorajadas, não, programadas para acreditar que se o cara age como um babaca, ele gosta de você.

“O problema é que ele gosta demais de você. Você é bonita e bacana demais e ele não aguenta”.

“Ele claramente gosta de você. Tenho certeza que perdeu seu número de telefone”.

“Ele não a chamou pra sair porque foi intimidado pelo seu sucesso profissional.”

“Ele não te chamou pra sair porque tem medo da sua maturidade emocional.”

“Acredite, é porque ele acabou de sair de um relacionamento sério”.

“Acredite, é porque ele nunca teve um relacionamento sério.”

“Tenho certeza que ele esqueceu o número da sua cabana. Ou foi devorado por um leão.”

Peguei esses diálogos das cenas iniciais do filme Ele Não Está Tão Afim de Você  pra ilustrar o que nós, mulheres, vivemos dizendo umas pras outras quando tomamos o fora de algum cara ou quando simplesmente ele nos deixa no vácuo sem qualquer explicação.  Somos especialistas em auto consolação com essas desculpas esfarrapadas de que ele não nos ligou porque é tímido, não nos convidou pra sair porque acha que nossa presença é demais pra ele, não ficou com a gente naquela festa porque somos muito independentes. Quanta bobagem, meu Deus! Por que fazemos isso com nós mesmas? Quem, afinal de contas, estamos querendo enganar com tanta teoria furada? A resposta é tão simples: ele não está afim de você. Pronto! Não dói nada, ninguém morreu por causa disso e você certamente não será a primeira vítima.

Uma pessoa quando está afim da outra, é capaz de tudo pra fazer contato, pra estar junto, pra ficar, pra encontrar e você é a prova disso. Ou esqueceu quantas vezes foi numa festa sabendo que seu alvo estaria lá? Para quantos amigos de amigos você ligou até conseguir o telefone do cara que te interessava? Quantos quilômetros você já viajou só pra ficar um final de semana do lado do cara que tava afim?  Se o cara não te ligou, é porque ele não quer. Se ele não te convidou pra ir ao cinema, idem. Por que é tão difícil encarar essa realidade?

Se conseguirmos aceitar o simples fato de que o outro não está tão interessado na gente como a gente tá interessado no outro, seremos muito mais felizes, mais livres, mais leves e gastaremos menos energia à toa podendo usá-la para coisas mais produtivas e relevantes. Ganharemos menos rugas, menos cabelos brancos e mais dinheiro na conta bancária (afinal, estaremos economizando no salão de beleza e nos cremes). Lembrem que no mundo existem 7 bilhões de pessoas e no meio dessa multidão que não para de crescer, deve haver pelo menos uma que esteja afim da gente. É só saber procurar.

por Menina de Ar (http://meninadear.blogspot.com.br/)