Sou totalmente contra viagens com a finalidade de fazer compras, especialmente aquelas que são feitas pra outros países. Acho de uma pobreza de espírito tão proporcional quanto à riqueza de Dólares na carteira e fico me perguntando por que alguém em sã consciência gasta uma fortuna em passagens aéreas e hospedagem pra simplesmente atravessar um oceano e ir bater perna em shopping center ou outlet. O que de tão especial se compra em Miami que não esteja à venda no Brasil? Entendo que aqui no nosso projeto de país o custo do produto seja mais alto que em Miami, mas a cotação do Dólar e a taxa de mais de 6% cobrada para compras no cartão de crédito no exterior, não justificam a viagem.
Acho triste quem vai até Nova York e volta cheio de sacolas de grife e sem nenhuma história pra contar. Conheceu todos os outlets, trouxe todas as camisas da Tommy, comprou todos os eletrônicos inúteis, mas não foi capaz de perder tempo batendo papo com um nova iorquino pra entender como ele vive, o que ele pensa da vida. E esse é o grande barato de viajar: conhecer pessoas, trocar experiências, ampliar os horizontes e a visão de vida e de mundo. Ter contato com outra cultura é muito mais enriquecedor do que voltar com 4 malas extras abarrotadas de objetos que em pouco tempo se tornarão inúteis ou obsoletos. Conhecimento, vivência, ao contrário, não se tornam ultrapassados ou desnecessários nunca na vida da gente.
Todo dia morro de vergonha um pouquinho ao ler nos jornais ou nas redes sociais sobre brasileiros invadindo Miami e achando o suprasumo da ostentação tudo aquilo que consomem. Na verdade tenho pena dessas pessoas que não são capazes de planejar uma viagem pro exterior que não seja pra consumir e gastar dinheiro, como se isso as tornasse melhores perante o resto da manada. E mais triste ainda é na volta quando você pergunta todo entusiasmado “e aí, como foi a viagem?” esperando ouvir histórias extraordinárias que só quem viaja pode contar, e a pessoa senta pra te contar tudo o que ela comprou e o quão pouco gastou. Sério, por que alguém estaria interessado em saber o que o outro foi comprar? Mas essa é só parte da realidade condizente como o retrato 3X4 do nosso projeto de país, onde de uma hora pra outra quem não tinha onde cair morto acordou com crédito no banco pra gastar com o que bem entendesse e então precisa provar por aí que sim, é alguém com poder de consumo e portanto, deve ser aceito nessa sociedade primitiva onde só quem tem alguma coisa é bem visto.
Ao contrário das roupas de grife, das bolsas caríssimas, dos perfumes importados, dos eletrônicos de última geração, tem uma coisa que jamais poderá ser comprada numa viagem seja lá ela pra onde for: conhecimento, cultura, experiência. Pena que nem todo mundo liga pra isso e ainda continua voltando de Miami rico de futilidades, mas pobre de espírito.