Eles estão lá, nos banheiros de bares, universidades, boates. De pé ou sentado, você, ao fazer suas necessidades básicas, não consegue desviar o olhar: mensagens, recados e pichações diversas espalham-se pelas paredes. Seja com canetas, sprays, corretivo líquido ou mesmo em baixo relevo talhado com uma chave, pessoas e mais pessoas deixam seu recado, marcando o local com seus pensamentos.
Não é vandalismo dos tempos modernos: nas ruínas de Pompéia, cidade destruída há dois mil anos atrás, foram encontradas mensagens nos banheiros. O assunto? Não mudou muito das que são encontradas hoje: sexo. “Agora mesmo acabo de fazer amor com uma mulher belíssima, elogiada por muita gente, mas por dentro era puro lodo”. Talvez nos dias de hoje esta frase não tivesse tanto lirismo; mas sexo é o tema mais freqüente nas pichações, conforme a pesquisa realizada por Renata Plaza Teixeira, psicóloga que estuda os grafites de banheiros de universidades em todo o mundo.
Além de sexo, os outros assuntos que aparecem seguidamente são o esporte e mensagens de cunho político ou racial. Nos banheiros masculinos da Faculdade de Comunicação da PUC/RS, que freqüentei por quatro anos, sempre há algum apoio ao PSTU e à extrema esquerda, uma tentativa de marcar encontro para sexo (que depois vira debate, com homófobos destilando ódio e outros menos enraivecidos sugerindo que fossem todos à merda ou algo assim) e um recado sobre futebol (principalmente depois de gre-nal). Esporadicamente surgem “pegadinhas” (do tipo “quem ler isso aqui é corno”, o que vira debate também, geralmente em torno da mãe de quem escreveu) e as clássicas “ó cagada profunda, a merda bate na água, a água bate na bunda” ou ainda “este é o lugar onde todo covarde faz força e todo corajoso se borra”.
Ainda de acordo com a pesquisa realizada por Renata Teixeira, em outros países a coisa é bem parecida. Entre os alemães a xenofobia é predominante; na Espanha, a política é a tônica, apoiando a esquerda. Mas o sexo, o preconceito contra homossexuais e o típico “nome/data” (por exemplo “André 1997”) estão presentes em todo o mundo, sempre em quantidade significante.
Banheiros Femininos
E os banheiros femininos? Pela pesquisa, constatou-se que mensagens românticas são o principal – seja em São Paulo, Madri ou Berlim. “Os homens são bem mais agressivos e falam bem mais de sexo. Já as mulheres são mais românticas. No entanto, ambos deixam transparecer seus preconceitos: os homens contra homossexuais e as garotas contra as mulheres de comportamento sexual promíscuo”, disse Renata em entrevista concedida à revista Brasil Pesquisa.
Mais do que rabiscar uma parede, as mensagens deixadas são uma expressão pessoal e íntima, uma maneira de deixar marcas no mundo – embora nem todos tenham exata noção disso. O banheiro, no caso, é apenas um local propício, com alta rotatividade e certa privacidade. As frases são uma válvula de escape para pensamentos muitas vezes reprimidos pela sociedade, como o preconceito racial e sexual. Ou também puro vandalismo, mesmo. O que conta, na realidade, é que as paredes e portas dos banheiros ganham nova dimensão, saindo da sua prosaica função para tornarem-se veículos de comunicação.