Em cem anos, o Cinema se tornou das expressões artísticas mais acessíveis e populares, comovendo milhares de corações e, claro, dólares ao longo das décadas. Estados Unidos e França sempre se destacaram como centros da produção e intelectualidade do Cinema e, provavelmente, a rixa mais antiga e interminável dentre os cinéfilos é qual dos dois países produz filmes de maior qualidade. Quando se pensa em premiações como termômetro da mesma, resta a pergunta: Hollywood, com seu Oscar, ou a Palm D’Or de Cannes?
Favorito dos intelectuais, o Festival de Cannes sempre surge nos discursos mais exaltados como uma premiação preocupada com o Cinema autoral, enquanto Hollywood se direciona para o comercial e, não raro, vulgar. Uma falácia, principalmente se você avaliar que, apesar de inserido na mais venal das indústrias, o Oscar está longe de ser popular e de premiar apenas o comercial – é só googlear as bilheterias dos vencedores do Oscar de melhor filme de, pelo menos, dez anos.
O que a maioria das pessoas ignora é a necessidade de observar uma premiação além dos vencedores, considerando indicados, anos pregressos e, principalmente as campanhas e trajetórias (comerciais e críticas) que os filmes indicados fazem até culminar na premiação.
Por exemplo, sabemos que o Oscar é obcecado por artistas como Clint Eastwood, Meryl Streep e Steven Spielberg. Praticamente tudo que eles fazem é indicado, causando pouquíssima surpresa. E, enquanto o Cinema apresentado e celebrado em Cannes parece ser mais avant garde, se você parar e analisar Cannes também tem seus preferidos como Wong Kar Wai, Pedro Almodóvar, Michael Haneke e, sim, Clint Eastwood.
Em 2013, ambos premiaram filmes que em essência mantinham a mentalidade das premiações: vencedor do Oscar, Argo é um filme que celebra a capacidade do Cinema de mover grandes contextos sociais, com toda a autoindulgência adorada por Hollywood. Já A vida de Adele, vencedor em Cannes, trata de maneira explícita uma relação lésbica, confirmando o gosto francês em ser intelectual e sexualmente chocado.
Para arrematar, o juri de Cannes este ano contou com nomes como Nicole Kidman, Ang Lee, Christoph Waltz e foi presidido por Steven Spielberg – todos membros votantes do Oscar.
Sob tal perspectiva, França e Estados Unidos são mais parecidos do que se admite. Cada premiação tem suas particularidades mas, a grosso modo, as duas representam muitas vezes o tradicionalismo e gosto da elite cinematográfica.
Então, seria Cannes um Oscar mais esnobe?