Uma pausa compulsória a cada sete anos. Era essa a ideia do ano sabático no antigo mundo judaico. Oriundo palavra shabat, que quer dizer repouso, a tradição dizia que as pessoas e a terra deveriam a cada sete anos efetuar uma pausa para descanso. Ainda segundo a tradição, o ano sabático era também um período de perdão em que escravos por dívidas conquistavam a sua liberdade, assim como os animais e trabalhadores da terra não podiam lavourar. No século XIX, essa tradição passa a ser adotada pelo mundo acadêmico norte-americano, possibilitando aos professores um ano de dispensa para dedicar-se apenas a seus estudos e ao ócio. Mais tarde, em meados do século XX, esse mesmo hábito passa a integrar a rotina empresarial do Ocidente, trazendo para muitas empresas profissionais mais engajados ou permitindo a muitos deles uma mudança radical em suas vidas.
Hoje esse é um período essencial para muitas pessoas. Muito mais do que merecidas férias, o repouso do ano sabático proporciona que muitos possam conectar-se, dando vazão a aspectos e interesses negligenciados pela rotina estafante do mercado de trabalho. Para muitas pessoas essa pausa é um marco, um ponto de viragem, após perceber que o tão sonhado plano de carreira, na verdade, gerou um esvaziamento da vida, não sendo meio por meio do qual realmente se anseia expressar. Pessoas de todas as idades, com diferentes carreiras e dos mais longínquos cantos do mundo cada vez mais optam por essa chance.
Ao ver os olhos brilhando de Martha Janzer, colombiana que vive há mais de 20 anos em Berlim, falando de sua pausa. A artista plástica e educadora, há um ano largou um trabalho que realizava com crianças árabes de Neukölln, um dos bairro considerados o mais perigoso da capital alemã. Segundo ela, o seu trabalho depois de um tempo passou a soar inútil, ela se sentia impotente e achava que não possibilitava a abertura do horizonte de crianças oriundas de famílias com uma educação tão rígida, e tão resistentes em aceitar a cultura alemã. Inquieta ela alugou o seu apartamento e começou a sua busca, visitando comunidades alternativas na Alemanha, projetos educacionais que aliam arte e educação, começou a tocar ukulele e, por muitos meses, permitiu-se um novo ritmo, mais devagar e simples.
Passado um ano, Martha está prestes de iniciar o seu novo trabalho em um grupo educacional alternativo perto de Potsdam, pesquisa incessantemente temperos e ervas novas, leva o seu ukulele a todos os lugares. Para ela, o mais importante em se permitir parar foi oferecer-se um momento para processar o seus sonhos e desejos sem a cobrança e o controle que a sociedade nos impõe. Sociedade, que segundo ela, é o cerne da crise em que se vive no mundo.
Há quem defenda ainda que devemos ser sabáticos constantemente dando em vez de uma pausa longa quando tudo desmorona, pausas mais curtas e constantes. Segundo essa visão, o desejo por uma pausa pode ser oriundo de vários anos de uma rotina dura desde a infância com horários rígidos e objetivos supra-humanos. O “ter que ser bem-sucedido” atropela o “o que me move”. A acumulação dessa visão yuppie de mundo gera em muitos uma crise, um momento em que elas acordam para si mesmas e precisam celebrar a morte do que foram para acharem o querem ser. Parar, acima de tudo, é um movimento necessário para quem sempre em movimento quer estar.