Luxúria é um dos livros que compõem a coleção Plenos Pecados, recentemente lançada pela editora Objetiva. Com certeza o objetivo dos editores, ao dar o tema luxúria para Ubaldo não era bem intencionado. Ou melhor, era tão bem intencionado que só poderia ter um resultado: a controvérsia. Fato é que conseguiram e, diga-se de passagem, muito bem. Está aí o livro, o autor, o assunto e, o principal, a polêmica.
Muita gente por aí alegou que não conseguiu passar da página 10, uma vez que a história se repetia a cada parágrafo. Sexo, sexo e… mais sexo. Sexo à vontade, para dar e vender. Sexo para todos os tipos e gostos. Sexo de todos os modos possíveis e imagináveis. E, quando não se agüentasse mais… sexo.
Mas muita gente gostou. Pegou o livro e leu de uma tomada só, sem conseguir tirar os olhos. Além daqueles momentos os quais merecem sonoras gargalhadas. Sim, porque as situações são absolutamente hilárias. Talvez pelo fato de ser tão gostoso – e instigante – de ser lido, em Portugal, muitos foram os estabelecimentos que se recusaram a vender o dito cujo, alegando que infringia a moral e os bons costumes da terrinha.
Fora a questão moral, outros assuntos surgiram. Por exemplo, a dúvida quanto ao narrador. Ubaldo começa o romance falando que o trabalho dele estava sendo apenas o de transcrever algumas fitas que uma senhora havia deixado com ele. Sim, isso mesmo, uma senhora! Ou seja, toda aquela sacanagem havia sido vivida e estava sendo narrada por uma senhora!
Para a psicanalista Heloisa Caldas, é óbvio que o narrador é ele mesmo, Ubaldo, e não uma mulher. Segundo ela, a sexualidade feminina não é orientada exclusivamente pela lógica fálica, esta responsável pela contagem, mas também por um gozo infinito impossível de ser transmitido em palavras, ou de ser estimado numericamente. Ela ainda afirma que somente no amor esse gozo encontra uma maneira de se expressar, e não reduzido a aventuras eróticas, como no romance “A casa dos budas ditosos”. A importância do amor para a mulher nunca acaba, acontece antes, durante e depois. Realmente, nós, mulheres, sabemos que um discurso que preza o sexo quantitativo movido a “menages” e bacanais é bem caracterizado como sendo masculino!
De qualquer forma, João Ubaldo conseguiu bem o quê queria. Colocou a boa senhora para “soltar a franga e o verbo”. Muito bom para quem quer rir bastante!
Por Clarisse Cunha