Todos os dias levanto e faço as mesmas ações, agindo quase como um robô programado para fazer sempre as mesmas coisas, estou programado para trabalhar, comer, amar, viver, não existem muitas possibilidades nem escapatórias, fazemos registros de momentos com nossas câmeras digitais que se perdem em arquivos de HD´s ou se dissolvem nas redes sociais. Comemos comidas em restaurantes e nem sabemos mais diferenciar o gosto das misturas em nossos pratos, absorvemos informações, notícias, relatos e histórias como uma esponja que será espremida no final do dia. Programamos viagens para lugares onde sempre sonhávamos em ir, e lá apenas repetimos as mesmas atitudes.
Sofremos de amores baseados em folhetins diários, esperando que no fim tudo acabe em um casamento branco e floral, acreditamos fazer o bem, e que somos os mocinhos dessa história, e que seremos felizes para sempre. Temos medo da violência e achamos o mundo perigoso, acreditamos em um Deus, ou uma energia, ou em alguma teoria de evolução que nos faça entender o porquê de estarmos aqui, não queremos ter um fim, queremos a eternidade, seja ela no paraíso ou nos nossos genes.
Não aceitamos nossos corpos, nem nossas diferenças, queremos o padrão, o igual, o perfeito, o perfil da capa da revista, ou da contra capa, ou do contra. Sabemos um pouco de tudo, nem que seja para afirmar nossas convicções, confeccionadas com retalhos de notícias, com verdades “artigadas” por mestres da nossa evolução social, mas nada nunca é o suficiente. Queremos ter a nossa turma, o nosso grupo, sermos respeitados e apoiados, ser alguém, fazer algo, ajudar a humanidade.
Somos constantes repetições de um todo, queremos fugir, mas não sabemos para onde, nem os motivos sabemos, queremos revolucionar, mudar, transformar, gritar, chorar, rir. Somos tão previsíveis, que qualquer um a qualquer momento se encaixa numa parte desse texto. Tomamos remédios, usamos drogas, bebemos álcoois, vamos a psicólogos e psiquiatras e mesmo assim as alucinações e ilusões apenas se repetem como um disco arranhado que um dia irá parar de tocar.
Não estou aqui para elucidar qualquer questão, seja ela qual for, mas lembro da primeira vez que toquei o céu, era como uma festa dentro do meu corpo, um beijo na atmosfera, dançando na tempestade, e eu ouvi vozes que me diziam – mais, mais, mais – mas não existem respostas, nem lembranças, toda a vida tem seu caminho traçado sem muita criatividade, nos resta mudar isso e fazermos nós, o nosso próprio traçado.
Basta um risco no chão, uma conexão, um momento de reflexão e você irá tocar o seu céu, e descobrir o seu propósito, mas nisso eu não posso ajudar, muitos vão morrer sem nunca encontrar, mas ele está lá, em algum lugar dentro de você. E o toque é suave como neve num dia de verão.
Não tive a sorte da riqueza
nem o privilégio da sabedoria
não tive a oportunidade das relações
nem o talento da comunicação
não tive a força do nome
nem a diferença da beleza
não tive a visão do todo
nem a escolha da verdade
Nasci para ser o que eu era para ser sem ter sido.
Por Daniel Anillo