Grande questão de revistas adolescentes, a masturbação parece perder a sua importância e foco quando chegamos à idade adulta. Imaginamos que com a passagem para uma vida sexual mais regular, tendemos a dar exclusividade a nossas relações corpo-a-corpo, relegando à periferia o ato de ter prazer a sós, com a cabeça. Mas será?
Meus pais foram um exemplo da geração de pais moderninhos. Aos 13 anos me presentearam com um livro sobre todos os aspectos da sexualidade humana. Um livro muito aberto e sincero escrito por um casal de psicólogos americanos, Alex e Jane Confort, que abordavam a questão de forma muito humana, sem falsos moralismos. Talvez aquele livro dizia o que os meus pais queriam me dizer e não tinham coragem, que no caso da masturbação, mostrava-a como uma experiência de amor próprio, uma possibilidade de se auto proporcionar prazer, e aprender a gostar do próprio corpo. No entanto, tenho minhas dúvidas se eles fariam o mesmo se eu fosse mulher.
Por essa razão, e ao peso da falsa moral em questão, é preciso uma distinção básica. Obviamente a distinção entre homens e mulheres, tendo em vista que aos primeiros, sempre foi permitida e tolerada a prática da masturbação – desde que, hipocritamente, fosse feita longe dos olhos dos pais. Quanto às mulheres, a simples idéia, o mínimo gesto em busca de pontos sexualmente sensíveis no corpo, era repreendida com a mutilante idéia de que as mulheres que buscam o prazer são “indignas” ou “prostitutas”. Não que todas as mulheres deixassem de masturbar-se, mas, em qualquer caso, a prática vinha acompanhada de um dilacerante sentimento de culpa.
Claro que esse discurso tem um impacto avassalador sobre nossas amigas durante a adolescência. Muitas delas levaram anos para se libertarem dessas paranóias e virem a admitir que efetivamente masturbaram-se, ou mesmo, que vieram a experimentar recentemente essa prática. Entretanto, por mais cabeça feita, trabalhada em anos de análise, a mulher dificilmente se igualará aos homens em relação ao despreendimento e à instrumentalidade com que esses encaram a masturbação. Posso estar enganado, e espero estar.
Para o homem, ainda que esteja namorando, casado, apaixonado, a prática é a possibilidade de exercitar seu poder de fantasiar. Para uma pessoa que se auto intitulou Juarez Soares, 25 anos, namorando há mais de 2 anos, a prática é diária, admita com orgulho, e não tem hora para acontecer.
Segundo ele, sempre que está estudando sozinho tem que fazer uma “pausa”. Suas fantasias são amplas e diversas, e nelas também rola de pensar na namorada. Ele só faz uma ressalva: guarda uma certa ética quanto a fantasiar com a mulher dos outros.
O visual tem um apelo fortíssimo no imaginário sexual do homem, o que facilmente justifica a cultura da pornografia, cujo público é quase absolutamente masculino. As mulheres por sua vez, tendem por sua vez procurar as zonas erógenas, pontos ultra sensíveis do corpo. Poucos homens aventuram-se a tocar seu corpo, no entanto, se permitem pensar tudo – ainda bem.
Para Butch Cassidy, 22 anos, sem namorada, a prática é quase diária, podendo ser a qualquer hora. Diferentemente de Juarez, Butch lembra ocasiões em que certas namoradas fizeram com que a frequência da prática diminuísse significativamente. “Depende do desempenho de cada mulher”, diz ele, que também alterna a estimulação mental (fantasias), com certos artifícios, tais como internet e filmes de sacanagem. Quanto à ética da mulher dos outros, é categórico: “Independe de qualquer reflexão, simplesmente não rola de pensar”. Será?
E as mulheres? Credita-se à mulher uma falsa pureza. Não em contraposição a uma “sujeira”, na qual estariam imersos todos os homens, mas à prática do sexo como instrumento de prazer, e ainda, através de grandes experimentações e mergulhos profundos no mar da anti-moral, da , sacanagem – para melhor me expressar. Credita-se à mulher a prática do sexo por amor, acima de tudo, o que, teoricamente, as impediria, quando estão apaixonadas, de imaginarem-se fazendo sexo com outros homens. Muitas vezes (livrando-me das patrulhas relativistas), as mulheres buscam o prazer com um só homem, e a infinitude de possibilidades que o sexo proporciona será buscada dentro de um profundo envolvimento com aquela pessoa.
Por essa razão, Sharon Stone, 24 anos, que namora há um tempão, diz que, apesar de nunca ter tido pudor em masturbar-se, quase não praticou ao longo do namoro. Para ela, a mecânica com as mulheres é diferente. Tem prazer, de início, em se tocar, sem que para isso precise criar uma imagem luxuriosa em sua cabeça. Ao final, para atingir o clímax, acaba pensando em um, digamos…objeto fálico. Sua experiência com a masturbação remonta a sua infância. Aos 5 anos, seu desprendimento com o travesseiro era tamanho, que seus pais acabaram recorrendo a um papo cabeça, dizendo que isso não se faz em público.
Diferentemente, Clarisse Lispector, 22, disse que aprendeu a se masturbar com o seu namorado com quem esteve junto por 4 anos. ” Nunca sonhei em masturbar-me, e se me perguntassem isso na adolescência, eu ficaria chocada”. Com o tempo foi perdendo o tabu, e hoje, se diz uma verdadeira adepta da prática. ” Sabe aquela horinha chata, depois da novela das 9h…”.
O fato é que, não existe parâmetro de comparação entre o sexo e a masturbação. Cada um tem a sua hora apropriada. O importante é a pessoa não amordaçar sua sexualidade, seja no plano real, seja no plano da fantasia. Essa ultima, então, com recursos que nenhum filme do Spielberg pode conceber, que nenhum roteiro do Woody Allen pode maquinar. Um filminho cujo diretor, roterista, ator ou atriz principal (ou ambos) é esse grande artista anônimo: você.
Por Bernardo Medeiros