Tem dias que a gente acorda com preguiça de viver. Preguiça das pessoas, da faculdade, dos amigos, do almoço requentado e do ponto de ônibus. Tem dias que a gente acorda com preguiça da gente mesmo, do cabelo sempre igual, das mesmas roupas no armário, de levar o cachorro pra passear e de ter que ir trabalhar. Preguiça do céu nublado, das polêmicas sociais, do governo, da família. Tem dias que a gente acorda e dá preguiça até dos lençóis. Será que é porque tem muita coisa acontecendo e a gente tem preguiça de lidar ou é porque nada acontece e a gente tem preguiça de não inovar? Eu tenho preguiça, e o resto do mundo também, admitam! Essa sociedade semimorta que anda por aí com cara de sono ou gasta todas as suas energias vendo televisão e se privando de pensar, dá uma puta preguiça, né?
Aí a gente finge que vence, mas é pura convenção social. Se eu não sair da cama vou passar o dia preguiciando a vida, bora levantar, trabalhar, cumprir horário e ser um cidadão exemplarzzzzzzzzz. Levantamos, escovamos os dentes, fazemos o café mais forte que conseguimos aguentar, acendemos um cigarro e batemos a porta. Oi vida, o que é que tens de bom pra hoje? Nada, aparentemente. As mesmas batalhadas perdidas, o mesmo trajeto, os mesmos horários. Aí a gente decidi ir a pé. No meio do caminho tropeça num cachorro simpático e as coisas parecem melhorar. É a vida mostrando que não é de todo ruim e desistir é muito mais cansativo do que tentar.
Respingos de bom humor recaem sobre nós, apesar dos pesares, e não falo por pessimismo, falo por senso de realidade. É assim, quase todos os dias. Não é? Que atire a primeira almofada quem nunca teve preguiça de tudo e muito mais de todos. Como mudar? Indo a pé. Tropeçando no cachorro simpático e sorrindo, apesar de doer. Dando bom dia, apesar de não ser. Escolhendo um almoço diferente, nem que se mude só a salada, que peçamos salada no almoço, enfim! Essa preguiça maluca que chega chegando e pesando em tudo ao nosso redor, nada mais é do que medo do tempo. Medo de pra onde o tempo vai nos levar, mesmo que a gente faça tudo certo, dá até uma vontadezinha de fazer tudo errado pra ver se a coisa fica mais divertida. Não precisa. Não precisa de rivotril também, depressão é tão depressivo, tão chatinho e mimimi. Quem aguenta seus próprios mimimis por muito tempo? O que dirá o dos outros.
Eu tenho preguiça de ter preguiça, por isso invento, reinvento, inovo e busco. Nessas buscas dei de cara com a Márcia Tiburi, artista plástica, professora, filósofa, escritora e adepta do sincericídio. Ela fala, fala muito, mas ela sabe o que diz. E ela não o faz com cautela ou pisando em ovos, como meus avós diriam, ela fala na cara, seja de quem for, seja como for. Porque ela lê, estuda, analisa e critica diretrizes pautadas na obviedade, delírios de consumo não da Becky Bloom, mas de cada um de nós, muito menos glamourosos e muito mais vergonhosos. Márcia diz o que sente e o que sente falta de sentir. Márcia nos estapeia sem sequer aumentar o tom de voz, ela sorri enquanto nos apunhala com verdades. Duvido que depois dessa magnífica descrição vocês não queiram lê-la! Hãn, hãn, hãn?
Se vocês tiverem um tempo entre a novela supercult das 9 e as imbecilidades do Jabor no Jornal da Globo, leiam e me contem se estou certa ou não.
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Boa leitura!