Expedicionários do design, aventureiros das artes visuais, uni-vos! Precisar de 7 razões pra cair no mundo, ninguém precisa. Mas se design é forma e função, que tal mudar o seu próprio? É saindo por aí que se ganha nova forma de ver o mundo, nova função como artista visual e, melhor dos mundos, novo design pessoal. Pra ir além dos roteiros tradicionais, dou-lhe uma não, dou-lhe 7 razões pra arrumar já a malinha e ir logo justificando o sumiço como pesquisa de referência, estudo de campo, investigação visual – ou bagagem de vida mesmo.

NYC

 

ny (2)
Estar aqui significa estar dentro de um celeiro de ideias e inovação constantes, porque é nessa babel do mundo que todo mundo vai pra produzir algo de novo. Yes, we’ve got Manhattan. Ok, não vamos aqui falar da arquitetura da cidade inteira, pra não chover no molhado de todos os guias. Nem vamos cair na ladainha óbvia do Met, MoMA, Guggenheim, do Whitney Museum e do New Museum (ok, nem tão new assim anymore). Todos imprescindíveis, é certo. Não vamos repetir que Apple Store vale tanto a visita pelo que tem dentro, como pelo que é por fora. Ou mesmo sugerir o circuito de galerias do Soho, Chelsea, Meatpacking ou do novo hype que é Williamsburg, no Brooklin. Nope. Quer ir direto no coração da Big City? Vai lá no Museu of Television and Radio e encara logo como tudo começou na cultura de massa – e um dia desembocou no Andy Warhol, depois em você e eu. Quando estiver no Central Park, aproveita pra dar uma esticada no Cooper-Hewitt Museum ali pertinho, pra viver um pouco dos golden years do American Way of Life. Depois do basicão de compras na Barnes & Noble e na BH, procura o mercadinho da Union Square aos sábados, vai pra Chinatown, confere a BookMarc, livraria trendy do Marc Jacobs. Entra na clássica Morgan Library, onde tem sempre algo de bom à mostra. E na volta, passa ali na frente da School of Visual Arts, a SVA, e mata minhas saudades do seu Milton Glaser, dona Paula Scher e daquele rapaz, o Sagmeister, que vivem dando suas palhinhas por ali.[hr]

Londres & Amsterdã

londres
Covardia falar em inspiração na cidade que reinventou o design moderno. Londres foi a primeira cidade no mundo a entender que a indústria criativa é patrimônio nacional, produto de exportação – e fonte de muitos royalties. Criação aqui é coisa levada a sério, God Save the Queen. No clássico acervo da National Gallery, na modernidade da Tate, na excentricidade da Saatchi, White, Serpentine e de tantas outras galleries, no paisagismo insuperável dos jardins ingleses, em tudo um pouco essa cidade mistura tradicional com inovador. Mas quer falar no museu mais bem montado do mundo? Então parte pro V&A e seu vasto repertório de artes decorativas que vão desde a antiguidade até o fashion-punk de Vivienne Westwood e a coleção de padronagens florais da Liberty. Depois, mude-se para o Design Museum, que é o templo da produção criativa inglesa contemporânea – pode morar lá por uns dias, porque além do acervo mais representativo do design inglês, esse museu tem temporárias excelentes sempre. Camden e Brick Lane já merecem atenção pelas intervenções urbanas, mas a última clama por uma visita aos domingos, com seus open markets e o melhor street style de toda a europa reunido em um só lugar. E continuando pelas ruas, além do burburinho da Oxford, ruma pra Bond Street pelas lojas-conceito e seus novos artistas para consumo; procura o Gherkin de Norman Foster, o prédio contemporâneo mais interessante do Tâmisa. E aí, segue pra Abbey Road, por motivos óbvios – é a locação da capa de disco mais copiada do século. Experimente ir numa data comemorativa, como os recentes 40 anos da famosa foto, em 2009, e viva um flash mob real, na única cidade onde flash mobs dão certo. Photographer’s Gallery também é um ponto marcante, com exposições fotográficas escolhidas por uma curadoria exigentíssima. Royal College of Art, por ser o grande berço de novos talentos, também clama por uma passadinha. E obviamente a Central Saint Martins, que revelou nomes como Stella McCartney e Alexander McQueen, com todo seu estímulo por inovação e superação. “You are at St. Martins now, exceeding is your obligation” – quem já passou por lá sabe bem do que se trata ouvir essa frase a todo minuto… Sobrou fôlego? Liverpool, Stonehenge, Windsor e Bath são passeios que podem ser feitos em bate volta. Você vê a cultura criativa na cidade dos Beatles, design inexplicável nas pedras do Stonehenge, arquitetura e decoração de interiores tipicamente ingleses em Windsor e uma cidade termal romana preservada em Bath (cidade também dos romances da Jane Austen). Dá pra ficar mais? Vai subindo tudo até a Escócia e visite Edimburgo e as paisagens das highlands. Pronto, inspiração de todos os estilos pra fechar um pacote completo UK.

 Ainda deu um tempinho de esticar até Amsterdã? Ok, hora daquele pacotão turístico que parece bastante liberal de início… terminando sempre numa filial do Febo, com suas prateleiras com gavetinhas de croquetes impronunciáveis – e o design mais funcional que uma rede de comida rápida e simples pode oferecer. E quando você começa a entender mais da herança puritana da cidade, percebe que coffee shops e Red Light district são formas de colocar as coisas nos seus devidos lugares. O que não torna a cultura conciliadora desse lugar menos interessante. Todas as pedaladas dadas e canais domados, hora de fazer fotos dentro de todas as letras da tipia gigante do I Amsterdam e aprender tudo sobre a tradição do claro-escuro e da natureza morta da pintura holandesa, no Rijksmuseum. Ali em frente, corre pro Museu Van Gogh e se demore por lá. Mesmo. É um dos museus-biográficos mais bem montados que você vai ver. Quer ver como Rembrant dormia sentado e como era seu ateliê? Vai lá na casa dele. Em seguida, esquece o peixe e descobre o NeMo, National Center for Science and Technology. Do lado, o Stedelijk abriga a moderna arte moderna do país. E não deixe de procurar lojinhas de novos criadores, como a Droog Design, com todos os produtos que você achou que só existiam nos blogs.
[hr]

Madri, Barcelona e Lisboa

barcelona
Primeiro, a capital madrileña. Prado, Reina Sofia, Tyssen-Borromina, olé. Só aí você já viu quase metade do acervo de história da arte européia. Então, vai pra rua conhecer a movida de Chueca. Vai ver o Retiro com seus artistas de rua. Vai logo pra Plaza Mayor e pega um passeio de bike pela cidade. E quando pedalar pela arquitetura neoclássica das grandes avenidas, dá uma paradinha respeitosa na Calle de Alcallá e pede a benção pro Museo de la Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, onde os grandes mestres um dia estiveram aprendendo. E lembra que a estrada ainda é longa, mas é pedalando que se chega. E não, o Museo del Jamón não é um museu de artes, digamos, visuais. Aqui as especialidades são obras em presunto espanhol, jamón, queso, lomo, chorizo, bocadillos, raciones, charcutería, pastelería. Para os olhos, nem tanta estética assim, já que os prazeres são outros por aqui.
Partiu Barcelona? Aí, o bicho pega. Estamos em mais um centro de referência no design europeu. A mistura de street art, arquitetura medieval, art nouveau e urbanização moderna traduz um pouco do caldeirão de culturas que é essa cidade incrível. Aqui é um dos poucos lugares do mundo onde aqueles ônibus de sightseeing valem a pena: com 2 roteiros que se cruzam em vários pontos dessa cidade que é grande para os padrões europeus, você já domina a Sagrada Família, Eixample, Parque Güell, Montjuïc e toda a área olímpica. Além de rondar pelo Bairro Gótico dia e noite, fazer o circuito obrigatório (e insuperável) do Gaudí (essa parte daria um capítulo inteiro!), pegar o funicular pra conhecer o museu Mirò, vir da Barceloneta até as Ramblas e se lambuzar na Boquería, não deixe de ir ao MACBA, o Museu de Arte Contemporânea da cidade, com arquitetura de Richard Meier que por si só já vale a visita. Fica no centro das noitadas do Raval – e é ponto de encontro da boemia catalã. E quando for ver a fonte mágica de Montjuic, dá uma passadinha antes no Caixa Forum ali do lado, pra ver o que anda rolando por lá.
Seguindo pra terrinha… ah Lisboa! Todo mundo tem cara de vó pela rua. Além dos tugas e dos brazucas miscigenando numa contra-corrente migratória, muita influência árabe e africana em toda parte. Detalhes, entalhes, chão de pedras, sinalizações que nos remetem ao nosso próprio repertório visual de ex-colônia. E azulejaria é o que importa. O Museu do Azulejo tem o maior acervo do mundo. Se o elétrico, Belém, os Jerônimos, Castelo de São Jorge e o Elevador de Santa Justa já foram conferidos, vale a ida às Ruínas do Convento do Carmo, com sua bela estrutura arquitetônica de pé, mesmo depois do “terramoto” que redefiniu a cidade no século XVIII. E pra contrastar, a estação da Gare do Oriente, belíssima obra de Calatrava, e o divertidíssimo Oceanário. No Bairro Alto, muita street art bacana – foi lá que aconteceu o Museu do Efêmero,  o coletivo a céu aberto que mapeou a arte urbana da cidade. Se tiver tempo, escapadas ao Porto (a Casa da Música merece atenção), Óbidos e Évora são cheias de muita inspiração moura, medieval e mesmo romana. E uma visita ao Palácio da Pena, em Sintra, a 40 minutos de comboio de Lisboa, merece coroar a viagem com suas misturas visuais e arquitetônicas. Conclusão: a mistura realmente já veio no nosso DNA. Fechou Península Ibérica.[hr]

Paris e França

 

franca
Na cidade mais turística do mundo, não faltam opções pra flanar, como os artistas sempre fizeram por lá. Do Louvre, Musée d’Orsay, Pompidou, Musée Rodin, Quai Branly, passando pelos bouquinistes do Sena até os mercados de pulgas e as intervenções urbanas do Invader, tudo é bonito de se ver e suspirar por aqui. Mas quer ir além? Vai ver as exposições dos Petit e Grand Palais, sempre escolhidas a dedo. Vai ver as maquetes da Paris medieval na Conciergerie, onde Marie Antoinette foi mantida presa até a forca. Vai na Sainte Chapelle, a capela gótica mais linda de Paris. Vai pro recém reaberto Musée des Arts Decoratifs, conferir o acervo permanente de mobiliário e design da história da França. Se der, procure os originais de Affiches, os tradicionais posters franceses do começo do século passado. E quando estiver no Musée Picasso, não deixe de dar uma esticadinha até o excelente (e blasé) Musée Carnavalet, no Marais (bairro cheio de lojas conceito e pequenas galerias), que conta a história da cidade através de antigos resquícios urbanos perdidos na Revolução Francesa, como letreiros, sinalização, antigas vitrines, objetos domésticos e interiores inteiros de casas pré movimento Haussman. Indo de um século a outro, conheça a Bibliothèque Nationale de France (Biblioteca François-Mitterand), conjunto arquitetônico inspirado em grandes livros abertos, projetado por Dominique Perrault. Fica não muito distante do Institute du Monde Arabe, talvez o edifício moderno mais bonito da cidade, projetado por Jean Nouvel. Em Montmartre, que não é só Amélie Poulin mas também berço dos cabarés e de Toulouse Lautrec, preste atenção nos artistas de rua que reproduzem silhuetas dos clientes em recortes rápidos de papel (são característicos da Place du Tertre). Na Saint Honoré, a rua que ensinou ao mundo o amor por compras, preste atenção nas vitrines e dê uma conferida com mais tempo na Colette, loja misto de arte e galeria. Na Galerie Lafayette, foco não só nos produtos, mas também no décor. E como em Paris moda desfila pelas ruas, ali atrás fica o shopping de street wear Citadium, pra quem ama grafite, skate e street style. Na Bastille, outro bairro de galerias, visite a Merci, loja conceitual de consumo sustentåvel. No Quartier Latin, não perca a Album, uma loja especializada em Comics (Bande Dessinée, como dizem os franceses), cheia de coleções de toys de Tin Tin, Barbapapas e Asterix. Ah, e não esquece da lojinha da Taschen, na Rue de Buci.
E como a França sempre atraiu artistas do mundo todo, viagens é que não faltam. Ao Norte, Reims é a terra do Champagne – e tem a catedral gótica mais importante do país, onde os reis eram coroados. No Sul, Aix en Provence é uma linda cidadezinha onde Cézanne nasceu e viveu – o ateliê é mantido intacto e aberto a visitação. Ali perto ficam Arles e St. Rémy de Provence, lugares por onde Van Gogh passou – o famoso quarto de hospital fica nesta última. Em Giverny, nos arredores de Paris, fica o lindo ateliê e jardim de Monet. Sim, é uma frase clichê mas é real: prepare-se para se sentir entrando nas obras. E sim, turismo com design também pode ser muito clichê – vale a pena assumir isso e se jogar.[hr]

Itália

 

venice
Ciao, bella. É redundante falar de arte, beleza e inspiração nesse país, que nos deu a cultura Romana, o Renascimento e a Sofia Loren. Viajar pra Itália é um problema sério. Não tem como ir pra lá impunemente, porque não tem como se contentar com uma vez só. A não ser por Milano, onde design é mercadoria de exportação, a inspiração vem por todos os lados. Ou seja, vamos aqui focar no eixo fora das feiras e cadeias de Milão, que são um deleite quase obrigatório, e procurar informação visual nas fontes menos “industrializadas”, já que nessa terra os museus são as ruas, e cada lugar pode revelar um afresco, uma ruína no meio da calçada, um olhar completamente novo. Tá preparado? Então, toma:
Roma – Talvez somando-se todas as igrejas com obras-primas dessa cidade chega-se perto da grandiosidade da Basílica de São Pedro (Vaticano), que é tão impressionante por dentro quanto por fora (nela estão juntos obras de arte clássicas do cristianismo, os restos mortais de São Pedro e a Pietá de Michelângelo, só pra dimensionar um pouco a riqueza cultural do lugar). Os mármores utilizados na construção da Igreja foram tirados do Coliseu. Os Museus do Vaticano são um dos acervos de arte mais importantes do mundo, e é lá onde fica a Capela Sistina. Pertinho, fica o Castelo de Sant’Angelo, uma antiga construção romana que foi transformada em fortaleza papal na Idade Média e serviu de prisão na época da unificação italiana. Tem uma vista linda da cidade e do rio Tibre pra quem tiver tempo de entrar e subir. Fica em frente à ponte de Sant’Angelo e seus anjos de Berrini – uma das mais lindas da cidade. Pacote Roma Imperial: Coliseu, Fórum Romano, Mercados de Trajano, Capitólio (Museu projetado por Michelângelo) – os passes são combinados e as exposições temporárias são interessantes nesses lugares. A Galeria Borghese, dentro do lindo jardim Vila Borghese, é imperdível, mas só aceita visitas marcadas (não deixe de reservar com antecedência). De volta ao centro, a Piazza di Spagna é uma das maiores e talvez a mais famosa praça de Roma. Ali perto, a Via del Corso é uma rua bem agitada, e com muitos restaurantes, lojas e brechós; se destaca a galeria Alberto Sordi cheia de lojinhas bacanas. Na Piazza Navona, linda e renascentista, orgulhe-se do nosso Pallazzo Pamphilj; a praça fica numa área onde antes haviam jogos esportivos e era conhecida como Stadio Domiziano. O Palácio Doria-Pamphilj fica na Piazza del Collegio Romano (não confundir com o Palácio Pamphilj da Piazza Navona, da Embaixada Brasileira) e é um achado, com sua arquitetura e decoração imponentes, seus objetos clássicos, seus Caravaggios, Velázquez e várias outras obras-primas. O Museu dell’Ara Pacis (inaugurado em 2006), era um antigo altar de sacrifícios e hoje é protegido por uma estrutura de aço, concreto e vidro projetada por Richard Meier. É considerado o primeiro trabalho da arquitetura moderna no centro histórico de Roma desde as grandes guerras (e por isso mesmo gera controvérsias entre os romanos). Em 2007 abrigou a mega-exposição de despedida dos 45 anos de carreira de Valentino na Moda. Fica ao lado do Mausoléu de Augusto.

Firenze e Toscana – pronto, você chegou ao ponto máximo. Suba os 400 degraus da Catedral de Santa Maria del Fiore pra agradecer e ter uma vista deslumbrante da cidade. Perambule, entenda o dolce far niente como a melhor maneira de absorver um pouco dessa cidade. Atravesse a Ponte Vecchio sobre o Rio Arno, demore-se no Palazzo UFFIZI com suas lindas esculturas, obras de Raphael e Botticelli (talvez o museu mais imperdível de Florença). Esqueça do resto do mundo na Piazza della Signoria. Visite a torre e seu rendado de mármores num bate e volta a Pisa. Ou continue até a bela Lucca, com suas ruelas e seu muro medieval preservado e transformado em área de lazer, no melhor exemplo de reurbanização sustentável. Gire pela Toscana pra ver a Piazza do Palio de Siena, as torres medievais de San Gimignano, os vinhedos de Montalcino, o vilarejo de projeto renascentista modelo de Pienza, os Palácios e colinas de Montepulciano, visite os afrescos da Catedral de Orvieto, perca-se pelas colinas e cerâmicas de Assis. Siga até Arezzo pra dar um “Buongiorno Principessa” na cidade cenário de “La Vita è Bella”. A Vida é Bela é apelido.

 Cinqueterre e Portovenere, na costa da Ligúria, formam uma área privilegiada, com belezas naturais e pequenos povoados em despenhadeiros litorâneos com características muito especiais. Os primeiros habitantes da região tinham uma relação maior com a terra do que com o mar e, para poder cultivar seus produtos, criaram terraços e muros de proteção sobre a costa. Esse processo durou mais de mil anos e criou uma paisagem única. O resultado são cidades encravadas nas pedras e muita, muita cor.

 Veneza – Não dá pra dizer que é a mais bonita cidade da Itália ou do mundo por um motivo simples: ela é realmente incomparável, completamente diferente de qualquer outro lugar. Capital do Vêneto, Veneza causa um choque em qualquer mortal que olhe aquela civilização erguida das águas. Na época do Carnaval, estar ali é uma atração e uma emoção à parte. Atenção a Murano e Burano, onde ainda se produz vidro com a técnica de sopro. E o Museo Collezione Peggy Guggenheim (Palazzo Venier dei Leoni) fica à beira do Canal Grande e abriga obras de representativos artistas modernos, coleção da sra. Guggenheim.

Nápoles, Pompéia, Capri, Sorrento e Costa Amalfitana – Aí chegamos ao sul, de mar intenso e vulcão Vesúvio. Pompéia é a única antiga cidade do Império Romano que mostra como era a urbanização da época. Ficou oculta por 1600 anos antes de ser reencontrada por acaso, durante uma obra de canalização na região. Cinzas e lama moldaram os corpos das vítimas, permitindo que fossem encontradas do modo exato em que foram atingidas pela erupção do vulcão (que não está inativo). Seguindo pra Nápoles, a terceira mais importante cidade do país, viaje pra Itália dos filmes: pra quem pensa em máfia napolitana, acertou em cheio. O trânsito é o mais caótico possível, a via pública é desorganizada, poluída e com gente no mínimo “suspeita”. O que não apaga a beleza da Marina, dos Castel dell’Ovo e Castel Nuovo, dos museus (o Museo Archeologico Nazionale di Napoli é um dos mais importantes do país) e, principalmente, seu porto de acesso à ilha de Capri (que além do mar mais bonito da região, fica completa com a visita à maravilha da Grota Azzurra). De volta ao continente, Sorrento é uma das primeiras cidades já no começo da “Costiera Amalfitana”. É super pequenina mas uma graça. Subindo pela costa, Positano e Amalfi são duas cidadezinhas encravadas na colina. Enquanto Positano foi um vilarejo simples até ser descoberto pelo turismo na década de 50, Amalfi foi um importante porto da região. Igrejas bizantinas, praias e vistas de tirar o fôlego são lembranças eternas desses lugares lindos. Lá em cima, Ravello é uma das vistas mais inesquecíveis da Costa e um dos pontos altos da viagem: conheça os jardins da Villa Rufolo e guarde na retina a vista da Villa Cimbrone. Não deixe de conferir o auditório recém projetado por Oscar Niemeyer. [hr]

 

Atenas e Ilhas gregas

 

grecia2

Grécia, pra continuar suspirando. Aí, meu caro artista, você fica pequenininho. Você está no centro, no Olimpo. A ordem é se mimetizar com todas as ruínas e templos que a cidade revelar. E com os gregos também, que são o máximo em simpatia e alegria. Plaka tem uma cena de arte urbana interessante, misturada aos comerciantes e restaurantes desse agradável bairro boêmio. Depois de visitar o Partenon, confira o novo Museu da Acrópole. E quase ninguém vai, mas eu recomendo o Museu Arqueológico Nacional. Dali, corre pras ilhas, já que a natureza é ainda mais artista nesse mar. E mergulhe. Fundo. Porque as praias e a beleza natural desse lugar vão grudar na retina e te colocar num universo paralelo que nunca mais sai de você. Ah, e se der, Mykonos tem também um pequeno Museu Arqueológico, assim como Santorini tem seu Museu das Cíclades. Mas vai correndo, pra não perder o pôr do sol em Oia.

Berlim & Leste Europeu

 

praga

Pronto, aí o negócio esquenta de novo. Berlim é a cidade mais efervescente do continente e reassume sua vocação libertária e boêmia, que tantas vezes foi sufocada. Sua beleza é intensa – não espere achar lindos quarteirões pra facilitar a sua vida. Ou seja, acostume-se com grandes distâncias, longas avenidas (herança do domínio soviético), muitas gruas e enormes canteiros de obras, mesmo mais de 60 anos depois do final da destruição. Mitte, o bairro oriental, é onde tudo de mais interessante acontece. Nem adianta falar da força histórica da cidade, que teve praticamente 95% de sua área aniquilada na guerra e contida por mais de 40 anos de regime comunista, explodindo com a queda do muro e virando o templo da arte urbana e dos squats coletivos de artistas de toda a europa – a experiência de estar lá fala muito mais. Pra ajudar a ficha a cair e já conferir os principais pontos com muito conteúdo e experiência, comece pelo Portão de Brandeburgo e procure o grupo dos Sandemans (New Europe Tours) em frente ao Starbucks, que fazem visitas guiadas a pé todos os dias de manhã. Do monumento ao Holocausto, passando pelo Tiertgarten, pelo bunker do Hitler, pelas ruínas da Gestapo e Topografia do Terror, às antigas praças do Império Alemão e aos marcos do muro e da dominação comunista, como o hoje pop Checkpoint Charlie, garanto que você vai ter a melhor aula de história de toda a sua vida.

 Aí, cai dentro com suas próprias pernas. A melhor cena de grafite internacional não foi suficiente e quer ver ainda mais muro pintado com arte de rua? Vai pra East Side Gallery, coletivo de street art onde o muro ainda é o original preservado na sua maior extensão. Vai pro Pergamon, museu de arte da história antiga, com suas enormes fachadas de templos gregos, árabes e orientais, na Ilha dos Museus. Pertinho fica o DDR Museum, que remonta a vida na época comunista com objetos que podem ser tocados. Pedalando através do parque, você passa pelo anjo do Asas do Desejo de Win Wenders e chega na Berlim Ocidental. Nessa área modernizada que fica a Igreja Memorial de Guilherme I, que ficou intacta apesar dos bombardeios da 2a. Guerra. Ali perto fica a Helmut Newton Foundation, onde se pode ver as fotos do mestre em tamanho gigante e uma remontagem do ateliê do fotógrafo, além de exposições excelentes. Fica em frente à estação de trem onde Cristiane F, a verdadeira, costumava ficar. E desse lado chique e ocidental que fica também o museu Berggruen, com um grande acervo de Picasso, Klee, Matisse, Braque e Giacometti. Chegue cedo e reserve um bom tempo pro Bauhaus Museum (outro capítulo inteiro), pra nunca mais querer sair de lá. Quer ver o muro onde ele começou? Corre pro Memorial do Muro, na Bernauerstrasse. Quer entender mais sobre a cultura judaica europeia e sua presença em Berlim, num dos museus mais bem montados da cidade? Vai pro Jewish Museum, com projeto de arquitetura de Daniel Libeskind. As zilhões de galerias independentes por toda a cidade não foram suficientes e quer ver mais arte moderna e contemporânea, numa antiga estação de trem transformada em museu? É na Hamburger Bahnhof. Se a noite estiver caindo, é a hora de ver a Postdamerplatz acendendo suas luzes e admirar a nova arquitetura alemã na sua maior exibição. Fechando o dia no mais famoso squat de Berlim, o Tacheles, você ainda pode ficar pra uma festinha no Biergarten, se a temperatura ainda estiver amena. E se perde nas ruas Friedrichshain, Friederichstrasse e no bairro Prenzlauer Berg (dica: vai ouvindo a música tema do Beirut no ipod). Domingo, comece o dia no Mercado do MauerPark, onde rolam as melhores barganhas que vão desde cartazes antigos, objetos comunistas e acessórios divertidos, até o Karaokê mais engraçado que você já viu. Tinha que ser em Berlim.

Continuando o expresso, Praga é uma cidade de cenário, a “pérola do leste”. Arquitetura, entalhes, afrescos e ilustração se combinam como nunca por aqui. E muito Mucha, nosso grande cartazista Art Noveau (não se deixe enganar, o museu mais completo não é o da Praça Central do Relógio, mas sim a alguns passos dali, ao lado da Embaixada Brasileira). Os pontos altos desse gênio dos floreis estão nos vitrais da Catedral de São Vito e na Casa da Música.

Seguindo pra Viena, viva a imponência do Império Austro-Húngaro. Mais arquitetura e decoração de interiores marcantes, como na Ópera, nos Palácios de Hofburg e de Schonbrünn (onde viveram Sissi, Marie Antoinette e nossa Imperatriz Leopoldina). Dica1: se comprar o Sissi Ticket (ingresso combinado), vai ter direito à Coleção do Mobiliário Imperial. Dica 2: um ônibus de sightseeing te leva por diversos pontos Art-Noveau da Secessão Vienense e te deixa no Schonbrünn. A cidade também conta com uma espécie de Ilha dos Museus. Agora, quer ver o Palácio mais modesto mas cheio de Klimt? O lugar é o Belvedere, maior acervo do pintor e onde está o “Beijo”.

Fechando a Europa Central por Budapeste? Dizem que não é, mas eu vi sim o Danúbio azul por lá. Aqui fica o primeiro metrô construído na Europa continental, e algumas estações em Peste são mantidas originais e ainda usam os vagões antigos. Em Buda, além do Castelo com funicular e vista linda da cidade, do rio, da Ponte das Correntes e do Parlamento, fica o Hotel Gellert, famoso por suas águas termais em um ambiente todo art nouveau. Lindo de se ver, ainda mais de dentro de uma piscina quentinha. Ainda em Buda, vale a visita à Igreja de São Matias, o Rei Guerreiro que encomendou a construção – os afrescos, detalhes e o teto são de uma beleza única. De volta a Peste, vague pelo mercado e pelo centro da cidade até chegar no Bairro Judeu, antigo gueto. Repare na grandiosidade da arquitetura da região. Pegue o metrô até a Praça dos Heróis, rodeada por museus e pelo interessante Vajdahunyad, criado como um centro de exposições das artes e arquitetura da Hungria, onde fica a estátua do Anônimo.

Agora, anônimo a gente pode até continuar sendo depois de um giro como esses. Mas o mundo nunca mais vai passar desapercebido pra você. E como design é forma e função, com certeza você já vai ter ganho seu próprio redesign pessoal quando voltar de uma experiência como essas.

Por Viviane Pepe Diretora de arte na WMcCann, ama design, trabalha pra viajar e viaja pra trabalhar, estudar, observar, criar, aprender e mudar. Começou na UFRJ, passou pelo Parque Lage, já estudou fashion e design na School of Visual Arts de NYC e na Central St. Martins em Londres. Sonha muito todos os dias, mas quando está em terra firme inventa projetos e mantém o designtegration. Acredita mais em bagagem cultural do que em hotel-design e está sempre planejando ir um pouquinho mais longe da próxima vez.