Cordas dissonantes sublinham a mão carcomida que brota do solo. Um crescendo de percussão registra a determinação do herói que, coberto de sangue, prepara-se para o confronto final com uma horda de zumbis. Uma canção de ninar sussurrada sugere que aquela criança que brinca na floresta à noite não seja bem o que parece… A música é peça fundamental na criação do clima em filmes de horror. Aqui vai uma seleção de gelar o sangue, com trilhas sonoras que podem ser encontrados na Amazon ou em lojas especializadas como Screen Archives Entertainment . Seus vizinhos vão acreditar que você aderiu ao satanismo ou enlouqueceu de vez!
Confira nossa seleção de trilhas sonoras de filmes de horror:
Bram Stoker’s Dracula, de Wojciech Kilar
(Columbia, 16 faixas, TT 55:08)
Primeira trilha americana do compositor polonês, que transita com elegância por temas que vão do macabro (“The Storm”) ao romântico (“Love Remembered”). A faixa “Vampire Hunters” é uma marcha sinistra que se popularizou como música de fundo em trailers de outros filmes. O CD termina com uma canção de Annie Lennox que destoa da atmosfera carregada que a precede.
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Halloween, de John Carpenter
(Varèse Sarabande, 11 faixas, TT 33:48)
Reza a lenda que o diretor John Carpenter mostrou seu filme ainda sem trilha para alguns executivos e só conseguiu arrancar risos de incredulidade. Com o orgulho ferido, Carpenter trancou-se em seu estúdio de gravação e só saiu de lá com a música pronta. Resultado: um dos filmes mais assustadores de todos os tempos, copiado à exaustão. A trilha é econômica, com dois ou três temas simples interpretados em sintetizadores antiquados, o que lhe confere um tom gélido e impiedoso.
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Hellraiser II: Hellbound, de Christopher Young
(GNP, 20 faixas, TT 73:57)
Em matéria de horror, poucos compositores são tão ousados quanto Young. Na trilha para a continuação de “Hellraiser”, ele expande seus horizontes musicais, abrindo com uma faixa ensurdecedora para coro e orquestra que logo se transforma em atraente progressão para cordas – um convite a explorar o medo. A seguir, o mergulho no inferno fica mais bizarro, com sons metálicos assustadores e uma melodia de carrossel. Na faixa “Leviathan”, uma buzina de nevoeiro pede ajuda em código Morse, soletrando G-O-D! CD perfeito para uma noite chuvosa com os cenobitas tomando cerveja em sua sala.
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Jaws, de John Williams
(MCA, 12 faixas, TT 34:47)
Quem não se lembra do tema insistente que marca a proximidade do tubarão? O que pouca gente conhece desta trilha que venceu o Oscar em 1975 são os temas secundários. O primeiro (“Out to Sea”) é náutico, dedicado à emoção de sair em uma aventura pelo mar, e lembra os filmes de pirata de antigamente. Já o segundo (“Preparing the Cage”) é um scherzo furioso que sublinha a atividade frenética do trio de caçadores de tubarão. Música obrigatória, editada e regravada pelo compositor para esta versão em álbum.
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The Omen, de Jerry Goldsmith
(Varèse Sarabande, 12 faixas, TT 48:29)
Talvez não seja a melhor trilha da série (a música do terceiro capítulo é mais elaborada), mas certamente conquistou maior fama ao garantir o Oscar para o compositor em 1976. Soa como uma Missa Negra cantada em latim, entremeada por faixas mais suaves em que o tema do menino Damien aparece em variações ao piano. Destaque absoluto para “The Dogs Attack”, um pesadelo que termina de forma apocalíptica.
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Psycho, de Bernard Herrmann
(Virgin, 22 faixas, TT 31:33)
Quando Gus Van Sant decidiu refilmar o clássico de Hitchcock, convidou Danny Elfman, seu colaborador habitual, para adaptar a trilha original de Bernard Herrmann. O resultado ficou fantástico. Utilizando tecnologia de gravação de ponta, Elfman capturou o espírito da música “em preto e branco” de Herrmann, alterando ligeiramente alguns arranjos e adicionando aqui ou ali curtas composições de sua autoria (como a montagem que constitui “Intro/Logos”). A trilha, que explora todas as possibilidades de uma orquestra de cordas, jamais soou tão nítida, com interpretações definitivas do agitado “Prelude” com pizzicati vigorosos e da faixa “The Murder”, talvez a música de cinema mais aterrorizante de todos os tempos.
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Urban Legend, de Christopher Young
(Promocional, 13 faixas, TT 45:19)
A maioria dos filmes de horror que explodiram nas telas americanas graças ao sucesso de “Pânico”, no final da década de 90, conta com trilhas medíocres. Não é o caso de “Lenda Urbana”, que deu ao compositor a oportunidade de retornar ao gênero que o consagrou. A primeira faixa chega a enganar, apresentando um tema cíclico e misterioso com coro de vozes femininas que, a pedido do diretor, lembra o tema que o próprio Young escrevera para “Dream Lover”. Em seguida, vem uma sucessão de músicas dinâmicas em que o ele usa e abusa de efeitos inusitados para orquestra, com ostinatos violentos para cordas, metais e percussão. Ninguém consegue permanecer impávido ao ouvir “Sexual Ax” ou “Devil Dog Dangling”. Pena que a trilha completa só esteja disponível em CD promocional produzido pelo compositor.
Por Daniel Lima Azevedo. Geriatra. Desde pequeno, adora filmes de horror e música para cinema. Ao entrar para o serviço militar, descobriu que o verdadeiro horror existia na vida real ao ser obrigado a cantar o hino nacional dezenas de vezes durante uma madrugada.