Sexo, prazer, tesão, loucura. Parece que você vai sair do seu corpo. Vontade de gritar, gemer, rasgar com as unhas, morder, de tão bom! E vai melhorando, melhorando, até atingir o ponto máximo… o orgasmo.

Afinal, o que é um orgasmo?

(Talvez você não queira saber. Talvez, seja melhor só deixar rolar, sem explicar, só sentir, tá entendendo? Mas, ao ler essa matéria, no mínimo você vai ter dados interessantes para comentar com os seus amigos e amigas na mesa do bar. Sem falar em uma cantada mais qualificada.)

Um orgasmo, de acordo com geneticistas e biólogos, é uma armadilha criada pelos mecanismos da evolução para garantir a reprodução das espécies. A sensação de prazer intenso é um pretexto para atrair determinados seres vivos para o sexo. A maioria dos animais sexuados cai nessa, mas nenhum com tanta freqüência e intensidade quanto o homem. (Não é difícil explicar o por quê, né?!) Só a espécie humana é capaz de experimentar o orgasmo a qualquer época do ano – os animais, só quando a fêmea está no cio, embora alguns pesquisadores tenham encontrado uma raça de macaco e outra de caranguejo que também fazem sexo, digamos, pelo prazer. Mas são exceções.

É tudo química, bicho

O cérebro todo funciona numa relação sexual, mas algumas áreas mais do que outras. Quem começa é o córtex, que processa os dados enviados pelos olhos e informa ao sistema límbico (enorme região do cérebro com diversos núcleos, um deles o septo, que governa as sensações de prazer) as imagens da/o parceira/o. O hipocampo, por sua vez, faz comparações com a memória e informa se a visão agrada ou não. Da mesma forma, os dados da audição (voz, sussurros, gemidos), do olfato (perfumes), do paladar (como o sabor do beijo ou da pele) e do tato (o toque) são processados pelo córtex para seguirem ao hipocampo. Se algum desses sentidos não for satisfatório, a imaginação pode atuar no seu lugar – tudo para garantir uma boa performance do reprodutor. O sistema límbico, então, dá a ordem para que os órgãos sexuais se excitem, enviando substâncias que os inundam de sangue extra.

Palmas para esse tal de sistema límbico! Depois disso, é uma barbada. Com a estimulação um do outro, a sensação agradável dos sentidos vai sendo reforçada, e o sistema límbico vai ficando cada vez mais acionado e começa a interferir no funcionamento de outras áreas cerebrais – especialmente aquelas ligadas às funções involuntárias do corpo. Como se o cérebro não quisesse que a sensação tivesse fim! Tudo se acelera, até que se chegue ao clímax. Para atingir o orgasmo, o sistema nervoso ordena que o batimento cardíaco acelere, na base de adrenalina. Assim, o coração arranca, para que não falte sangue para os músculos. Como o sangue precisa estar oxigenado, os pulmões também trabalham a todo vapor, fazendo com que a respiração torne-se rápida e curta. E o suor começa a jorrar da pele, na tentativa de manter o corpo estável.

Para que o cérebro não entre – literalmente – em pane, endorfinas são descarregadas para causar efeito calmante. Curto-circuito? Sim! Com estímulos contraditórios ao mesmo tempo, o espasmo da ejaculação e do gozo. (Antes que o incauto pergunte, sim, meninas ejaculam também. Só que é incolor e em menor quantidade.) As endorfinas, ainda presentes, espalham-se pelos músculos, dando aquela sensação de relaxamento delicioso depois da satisfação total.

 

Homens e mulheres gozam diferente

 

A mulher, das espécies animais, é a única que comprovadamente tem prazer na relação sexual. Do ponto de vista evolucionista, ainda não há uma explicação definitiva para o orgasmo feminino. A teoria mais aceita – e confirmada recentemente por uma microcâmera colocada na ponta do pênis – afirma que os espasmos ocorridos durante o gozo transformam o útero num tipo de sugador, facilitando a entrada dos espermatozóides. É parecido com o homem, onde a sensação de prazer tem o papel de impulsionar o organismo a injetar seus espermatozóides na parceira. Consenso há no fato de que o orgasmo da mulher foi fundamental para libertar a espécie humana do cio.

 

Novas estudos tem dado cabo da antiga crença de que a mulher tem comportamento biologicamente monogâmico: foi comprovado que as fêmeas da maioria das espécies acasalam com vários machos. Dessa forma, os homens não teriam mais a desculpa de que são infiéis por motivos genéticos – a ladainha clichê de que precisam espalhar seus genes para o maior número de mulheres possíveis. A diferença básica seria que o homem é egoísta, ao querer que apenas os seus genes fecundem as mulheres. Não que as fêmeas sejam promíscuas e procurem perpetuar a raça a todo custo; elas são muito, muito mais seletivas do que o macho. Ou seja, lealdade e monogamia são opções éticas, não imposições biológicas.

 

Inveja do clitóris?

 

A sexualidade da mulher tem mais facetas e possibilidades que a do homem – que concentra-se apenas no orgasmo, no pênis em si. Basta olhar para o fato de que mulheres, e não os homens, possuem um órgão especialmente projetado para o prazer – o clitóris. Essa maravilha da natureza possui 8 mil terminações nervosas – mais do que em qualquer outro lugar do corpo, e o dobro do que o homem tem no pênis – e, ao contrário do mito, não é apenas um grãozinho de feijão: a parte visível é a ponta de um órgão que atinge até 9 centímetros quando excitado.

 

Mas, exatamente por ter um mecanismo tão rico e complexo, é mais difícil para as mulheres atingirem o orgasmo do que os homens. Estados psicológicos desfavoráveis social e historicamente podem bloquear o prazer nas mulheres – o que não ocorre nos homens, em que o orgasmo é muito mais simples (e também sinônimo de virilidade há milênios). Por isso um medicamento simples como o Viagra tem sido visto como uma panacéia para os machos e pouco funciona para as mulheres.

 

Não que possuir um pênis seja indulto de qualquer coisa. Também nos homens as “paranóias” psíquicas influem, mas de outra maneira: meu pênis é pequeno? Será que consigo dar prazer às mulheres? Será que ela fingiu? Perguntas quase sem resposta: ou é difícil acreditar, ou nunca se saberá. Já as mulheres tem um prova material simples de que seu parceiro atingiu o clímax.

 

A verdade é que passam e passam as gerações e cada vez mais o orgasmo, tanto masculino quanto feminino, tem sido melhor aceito e discutido. Os novos tempos tem possibilitado o desenvolvimento de novas técnicas, acessórios, brinquedinhos e fetiches para deliciar quaisquer fantasias sexuais. A causa de tudo isso? Meia dúzia de movimentos cerebrais. Grande cara, esse sistema límbico.