Eu fui pediatra antes de ser mãe. Era outra médica, então.
A teoria é muito diferente da prática, sempre. É fácil falar, difícil é fazer.
Depois que a gente se atrapalha toda com as horas da mamada, que esquece o horário do remédio, que coloca o bebê na nossa cama para garantir alguns minutos de sono. Depois que a gente quase desmaia com um pequeno corte no super cílio, que a gente chora junto com as cólicas, que a gente tem vontade de brigar com o mundo por um mundo melhor, muda tudo. A vida ganha outra perspectiva.
Nada substitui uma experiência. Só ela te dá a real capacidade de se colocar no lugar do outro. E na maioria das vezes, a gente só aprende assim, na marra, depois de cravar na própria carne.
Mas não precisava ser deste jeito, só deste jeito. Ou será que precisa?
Ficar doente para entender a doença, queimar-se para aprender que o fogo queima, cair para conhecer o tamanho do buraco?
Todo mundo tem um palpite, um modo de fazer melhor, uma ideia genial. Regras, existem aos montes. Só que nem todas se aplicam. Há que ter muito cuidado com a crítica, com o querer ajudar, com a receita prescrita. Nem sempre o outro está pronto. nem sempre ele pode comprar.
Usamos filtros de nossas próprias dores e conceitos para julgar, avaliar, reprovar, apreciar. Até aí, nada de errado, não tem como escapar. É como somos moldados. Mas, quantas e quantas vezes, mordemos a língua? Engolimos nosso próprio veneno, como antídoto de uma situação da qual não pudemos escapar. Simplesmente, por não pensar: e se eu estivesse neste lugar? A gente nunca sabe, de verdade. Até estar.
Empatia, para mim, é isso. A capacidade de se transportar, por alguns momentos, para a casa do outro. De sentir, ou imaginar, onde e como este outro vive. De onde ele veio, que histórias ele tem, as bagagens que carrega, o lixo que produz.
É respeitar, ainda que não vivenciar. Mesmo sem concordar, mesmo sem querer, ou poder participar. É apenas não condenar. Trocar, muitas vezes, um conselho por um abraço. Um silêncio, amoroso.
Não é fácil, nem estou dizendo que é. Nem sempre a gente consegue, mas não conseguir não impede ninguém de tentar. Não custa experimentar.
Afinal, a gente nunca sabe onde vai, um dia, parar.
Eu posso ser você, amanhã. E vice versa, ao contrário. Você, no meu lugar.