Faz menos de um mês que a MTV Brasil encerrou suas atividades. A sua estreia aconteceu quando eu tinha 13 anos e, como todo adolescente da época, passei a ter o canal como a minha referência de música e cultura pop/rock. Era uma estética diferente, colorida, meio caótica e barulhenta… um canal verdadeiramente jovem, assim como seu público. No meio daqueles apresentadores – VJ’s a partir de então –, sempre simpatizei com a Astrid Fontenelle.

Ela fugia do padrão bonitinha/engraçadinha que caracterizava algumas outras estrelas da casa e, talvez por isso, se destacava com uma personalidade própria.

Depois de muitos Disk MTV e Top 20 Brasil, perdi o contato com a Astrid. Às vezes cruzava com ela em algum programa feminino de fim de tarde e achava um desperdício ela comandando discussões sobre as tendências da moda outono/inverno ou entrevistando alguma subcelebridade.

Tudo bem, ela não seria a primeira pessoa competente a se perder em escolhas profissionais equivocadas, afinal, todos temos que pagar nossas contas.

Mas, não é que ela deu a volta por cima? Chegadas e Partidas. Esse é o passaporte da Astrid para o lugar de destaque que ela merece na televisão brasileira.

Conheci o Chegadas tem uns dois anos e foi amor à primeira vista. O programa consiste em pequenas entrevistas – acho que “conversas” define melhor – com pessoas que estão no aeroporto esperando para reencontrar alguém ou para se despedir dos que vão.

E daí surgem histórias ótimas e personagens reais muito ricos. Tudo é feito com bastante sensibilidade, sem escorregar pra pieguice ou dramalhões. É televisão de primeira qualidade, percebe-se o cuidado em cada detalhe, da edição à trilha sonora (ótima!). Em resumo, é um programa que aquece o coração.

Desde março deste ano, a Astrid também está no comando do Saia Justa. Esse é das antigas, começou a fazer parte da grade do GNT em 2002. Confesso que nunca dei muita atenção, achava muito “mulherzinha de TPM”, dificilmente eu parava para assistir.

Agora é diferente, o Saia Justa está excelente. Os temas são interessantes e atuais – os dois últimos trataram da polêmica das biografias não autorizadas.  Astrid dá um show como líder daquele quarteto (compõem o time as atrizes Maria Ribeiro e Monica Martelli e a jornalista Barbara Gancia, todas ótimas) e o Saia já se tornou programa obrigatório da minha quarta à noite.

Há menos de dois anos, Astrid foi diagnosticada com Lúpus, uma doença auto-imune. Não escondeu que estava doente, mas também não explorou o assunto em busca de mídia. Manteve sua trajetória profissional e continua prestando um ótimo serviço à televisão brasileira, fazendo rir, chorar e, mais importante, pensar.

Por Dario Machado